O mercado de seguros constitui, no mundo todo, uma indústria multimilionária, formada pelas empresas e pessoas que desenvolvem políticas de seguros, e trabalham na venda, administração e regulação desses serviços. No Brasil, em 2011, o setor movimentou mais de 61 bilhões de reais segundo estudo da Deloitte Touche Tohmatsu.
Hoje, existem poquíssimos itens de valor que não podem ser segurados, embora os tipo de seguro mais comuns envolvam negócios, veículos, imóveis, aluguéisl e problemas de saúde.
O que está por trás do sucesso dessa indústria é a atividade de gerenciamento de riscos. Isso porque o seguro nada mais é do que um serviço de transferência de riscos, em que a seguradora protege pessoas e empresas contra o risco de ocorrerem eventos imprevisíveis e que representariam grandes perdas financeiras para elas.
Para oferecer essa garantia, a empresa recebe de todos os seus clientes uma taxa, cobrada de tempos em tempos. No jargão da indústria, essa taxa é chamada de ‘prêmio’, enquanto o cliente é tratado como ‘titular da apólice’ (documento que formaliza o contrato entre seguradora e segurado). Se o evento especificado na apólice ocorrer, o cliente ganha da seguradora uma compensação.
Para ser bem sucedida, a seguradora deve certificar-se de que conseguiu dinheiro suficiente com os prêmios para compensar os gastos que terá restituindo os danos e perdas dos clientes, mantendo sempre o lucro. Pode parecer um procedimento simples, mas trata-se de um mecanismo de análise e cálculos extremamente sofisticado.
Cálculo de riscos A conta final só fecha quando o risco que cada indivíduo ou empresa representa é calculado com bastante precisão. Um exemplo banal: casas de madeira, por exemplo, apresentam maior risco de incêndio do que aquelas feitas de tijolos, da mesma forma que o histórico de multas de um cliente diz muito sobre as chances de ele se envolver em um acidente de automóvel.
Esse processo de analisar se o risco vale a pena ou não é chamado de subscrição, e constitui uma das atividades mais cruciais dentro de uma empresa de seguros. Trata-se de um estudo profundo, que leva em consideração diversos fatores para tentar estabelecer quais são as chances desse cliente necessitar acionar a seguradora para restituir perdas em determinado tipo de seguro.
É a análise feita pela equipe de subscrição que vai determinar se a companhia de seguros vai ou não fechar o contrato, e em qual plano de preços. Quanto menor o risco, menor o prêmio.
Se os riscos forem mal calculados, o valor dos prêmios não será suficiente para cobrir os gastos da empresa. Em outras palavras, se os subscritores (também chamados de underwriters) assumem que a probabilidade de um evento acontecer é muito baixa, a taxa cobrada de cada cliente também será baixa. Se o evento, ao contrário do que foi previsto, ocorre para muitos clientes, a seguradora sai no prejuízo.
Situações de crise Um cenário que pegou as seguradoras de surpresa ocorreu durante a crise financeira de 2008. A American International Group (AIG), maior empresa seguradora dos Estados Unidos, registrou no ano um prejuízo de mais de 99 bilhões de dólares, e precisou do apoio financeiro do Federal Reserve (FED – espécie de banco central dos Estados Unidos) para não ir a falência.
Para entender o que ocorreu, vale uma explicação inicial: o principal negócio da AIG é vender seguros, mas não apenas as modalidades mais tradicionais, como seguro imobiliário ou de saúde. A companhia também fornece serviços mais complexos para atender a demanda de grandes empresas, especialmente bancos.
Para protegerem suas grandes operações, os bancos costumam contratar seguradoras para socorrê-los no caso de seus negócios darem errado, e pagam um alto valor por isso. Dessa forma, a AIG assegura instituições financeiras no mundo todo contra riscos.
Praticamente nenhuma seguradora foi capaz de prever os riscos por trás dos créditos imobiliários subprime, uma modalidade de empréstimo praticada por diversos bancos que eram clientes da AIG. Quando esse tipo de crédito desencadeou a crise financeira, os bancos perderam muito dinheiro e começaram a acionar os contratos que tinham assinado com a AIG, obrigando a seguradora a pagar restituições enormes. A conta, nesse caso, claramente não fechou, levando a companhia a um estado de falência técnica que só foi superado por meio de ajuda do governo através do FED.
Trabalhadores na indústria Não são só os subscritores que lidam com gerenciamento de risco dentro de uma seguradora. Na empresa, os profissionais conhecidos como atuários também tem participação importante nessa atividade.
Cabe a eles olhar para as últimas tendências e estatísticas de uma ocorrência específica (seja incêndio, roubo, morte, acidentes de carro, etc) e usar essas informações para a construir tabelas de probabilidade e previsão de riscos. Esses profissionais, que calculam riscos constantemente, estão envolvidos em diversos processos na companhia de seguros, incluindo a própria subscrição, mas também definição de políticas de preço, desenvolvimento de produtos, investimentos e reivindicações de clientes.
Os profissionais da área atuária devem apreciar resolver problemas por meio de análise de dados e modelagem, e costumam ser motivados por trabalhar com computadores e fórmulas.
A verdade é que, em uma indústria construída ao redor da ideia de risco, todos os profissionais devem ter afinidade com essa temática. Desde os executivos em posições gerenciais, como diretores e presidentes, até a outra ponta do organograma, onde se encontram os vendedores (sales agents) – o objetivo, nesse último caso, é vender apólices de seguro, e esses profissionais devem saber avaliar o risco associado a cada cliente e recomendar um produto que se adapta às necessidades dele, e ao mesmo tempo não faça a seguradora tomar riscos desnecessários.
Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.
Fonte: Na prática