A julgar pelo mercado de seguros de vida, a fama de inconsequente está se descolando do jovem brasileiro. A participação de pessoas com menos de 35 anos na carteira das principais seguradoras está crescendo, segundo as empresas. Na SulAmérica, por exemplo, o percentual de contratantes do seguro de vida individual na faixa etária saltou de 25% para 35% desde 2011. Na Prudential, a idade média dos segurados caiu 10% desde 2012, e mais da metade dos clientes (56%) tem entre 20 e 39 anos.

Fatores econômicos e sociais explicam o apelo recente dos seguros entre os jovens. O passado recente da economia, marcado por hiperinflação e uma série de pacotes-relâmpago, dificultava o planejamento financeiro até para os mais precavidos. Com a estabilização e o aumento da renda experimentados nos últimos anos, a população, aos poucos, começou a se educar financeiramente, lembrou Osvaldo do Nascimento, presidente da FenaPrevi, que reúne companhias do setor.

— A conscientização econômica também acompanha a percepção de risco, que é social e vem crescendo — acrescentou ele.

Foi justamente por ouvir casos de pessoas próximas cujas mortes deixaram as famílias desamparadas que Cristiano Nogueira, de 32 anos, resolveu buscar um seguro. Outros fatores também interferiram na decisão: a mulher dele espera o segundo filho do casal e os dois trabalham por conta própria, o que acendeu o sinal de alerta.

— A vida é feita de imprevistos. Como considero minha família meu maior patrimônio e assumo responsabilidade por eles, não quero ter aberta qualquer chance de deixá-los desprotegidos — afirmou.

COBERTURA COMPLEMENTAR ATRAI

A formalização do emprego no Brasil estendeu o seguro para grande parte dos trabalhadores com carteira assinada, uma vez que a maioria das empresas oferece plano coletivo para os funcionários, lembrou Nascimento. Mas a cobertura média nessa modalidade — entre 24 e 36 salários — às vezes não é considerada suficiente, motivando a procura por apólices pessoais, disse Fabiano Lima, diretor-técnico de Vida e Previdência da SulAmérica.

— As pessoas também estão começando a ver o seguro além da morte. Por isso, mesmo com as pessoas tendo filhos mais tarde, um evento que costuma despertar o interesse pelo seguro, a idade média de contratação vem caindo. É gente que busca cobertura complementar, como para invalidez e doenças graves — observou Lima.

As seguradoras têm aproveitado o interesse dos clientes por apólices que possam ser úteis ainda em vida. A Prudential lançou uma modalidade de seguro de vida que já traz embutida a cobertura de doenças graves e cujo prêmio é pago por 30 anos. Como jovens têm sido o foco, o valor é menor nos cinco primeiros anos.

— Consideramos que o cliente está em começo de carreira e ganhando menos nesse período — explicou Fernando Pinto, vice-presidente de Operações da empresa. — Normalmente, você busca uma proteção para a família. No caso de uma pessoal nova, sem filhos ou parceiro, sua preocupação principal é a invalidez ou a enfermidade. Por isso a cobertura adicional é tão importante — acrescentou o executivo.

É o caso da designer Camila Dias, que adquiriu uma apólice individual com apenas 25 anos, mesmo sendo solteira e sem filhos. Desde que se formou em publicidade, em 2010, ela já sabia que fundaria sua própria empresa. Quando o sonho começou a se realizar — recentemente ela abriu uma firma de decoração de festas —, contratou um seguro como “uma garantia para o futuro.”

— Quando eu fiz, muita gente estranhou. Mas meus amigos que são autônomos logo concordaram que era vantajoso, por causa do auxílio doença e da cobertura de diárias de hospital — contou Camila, que tem a irmã como beneficiária em caso de morte. — Eu invisto em poupança, mas confio mais no seguro de vida porque não posso tirar o dinheiro que aplico nele com facilidade.

Estudo conduzido pela associação de consumidores Proteste em meados do ano passado mostrou também que, quanto mais jovem se contrata o seguro, menos ele pesa no bolso.

QUANTO MAIS VELHO, MAIS CARO

Entre as 13 maiores companhias do ramo, o prêmio mensal para proteger um capital de R$ 40 mil é, em média, de R$ 16 para contratantes com 18 anos e de R$ 17,40 para quem tem 25. O valor permanece abaixo dos R$ 25 até os 35 anos e, depois, inicia trajetória ascendente. Aos 45 anos, pula para R$ 40; aos 50 anos, sobe para R$ 60 e, para quem já está com 55 anos, é de R$ 90. Segundo simulação da Prudential, o seguro de vida para um homem de 50 anos pode ser até 166% mais caro que a apólice para um homem de 30.

Mauro Calil, fundador da escola de educação financeira Academia do Dinheiro, defende o seguro de vida e diz que o produto é barato no Brasil. Mas ele recomenda que os jovens tenham como prioridade a construção de um patrimônio:

— Indico seguro para jovens que estejam financiando um imóvel, por exemplo. Em caso de morte, o beneficiado terá como quitá-lo. Aqueles que praticam hobbies de risco também devem procurar uma apólice, mas isso tem um custo e é preciso ver se vale à pena.

Outra dica, de Fernando Pinto, da Prudential, é não exagerar no valor do capital segurado.

— A pessoa não pode valer mais morta do que viva. O seguro tem que ser do tamanho ideal para suprir a falta financeira que a pessoa fará.

Fonte: O Globo