Durante encontro, especialistas destacam o papel das seguradoras e da gestão pública na criação de uma rede de proteção contra os impactos dos fenômenos extremos e alertam sobre a urgência de ações preventivas
O evento “Está Chegando o Verão: Mudanças Climáticas, Urbanização e Vulnerabilidade – Impacto no Curto Prazo” reuniu, na última terça-feira, 5, em São Paulo, lideranças do setor segurador, autoridades e especialistas para discutir o papel crucial da sociedade e do mercado de seguros no combate aos impactos das mudanças climáticas, especialmente em áreas urbanas. O encontro foi promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Sindicato das Seguradoras de São Paulo (SindsegSP) e Academia Paulista de Letras.
A urgência climática impõe uma nova postura para o mercado segurador, que deve atuar preventivamente e auxiliar a sociedade na adaptação às novas condições ambientais. Fátima Mendes, diretora de Sustentabilidade da MAPFRE e presidente da Comissão de Integração ASG da CNseg, destacou a responsabilidade do setor em criar soluções para enfrentar as crises climáticas: “Somos responsáveis por entender os riscos climáticos e criar soluções para a sociedade”, declarou.
Essa responsabilidade ganha ainda mais relevância diante do cenário urbano de cidades como São Paulo, onde a grande concentração de veículos e a produção diária de 15 mil toneladas de lixo agravam os problemas ambientais. Segundo José Renato Naline, secretário de Mudanças Climáticas da cidade, os combustíveis fósseis, baterias estacionárias e o lixo urbano são os três principais emissores de gases na capital.
Naline enfatizou que é fundamental conscientizar a população sobre o impacto das ações individuais e coletivas, e ressaltou a importância do setor segurador nesse processo, sugerindo a criação de um seguro coletivo para cobertura de danos em eventos climáticos extremos, proposta que foi endossada por Ana Cristina Barros, diretora de Sustentabilidade da CNseg.
Atualmente, a Confederação Nacional das Seguradoras articula, junto ao Congresso Federal, a proposta de criação de um Seguro Social contra Catástrofe. Em suma, o projeto prevê o pagamento emergencial de R$ 15 mil, via Pix, para vítimas de calamidades. Cristina afirma que “o setor está dedicado a isso e será muito bom juntar forças”, enfatizando a importância da união de esforços entre o mercado segurador e o setor público para mitigar os danos e salvar vidas.
Cemaden
Paralelamente, o Rio de Janeiro, especialmente a região serrana, já sofre há anos com eventos climáticos extremos, como o desastre de 2011, que motivou a criação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Pedro Camarinha, pesquisador da entidade, explica que a urbanização desordenada aumenta a frequência e a gravidade das inundações e deslizamentos de terra. “O processo de urbanização contribui para o risco, combinando fatores como densidade populacional, vulnerabilidade geológica e hidrológica, e aspectos socioeconômicos”, destacou Camarinha, que ainda apresentou as previsões de chuva para os próximos meses, indicando um aumento moderado nas chuvas para o verão de 2024 e 2025, demandando atenção, mas ainda sem necessidade de mobilização extrema, tendo em vista que não há evidências suficientes a respeito da concretização de eventos extremos
Durante o evento, iniciativas concretas foram apresentadas para fortalecer a resiliência climática das cidades. O Estado do Rio de Janeiro lançará, no próximo G20 Social, dia 14 de novembro, o Programa Cidades Resilientes, que visa apoiar o desenvolvimento de planos de adaptação e gestão de riscos com soluções baseadas na natureza.
A subsecretária de Mudanças Climáticas do estado, Aline Freitas, destacou a proposta de criação de uma “rede resiliente” para ampliar as capacidades de resposta a desastres, integrando diversos órgãos governamentais e o setor privado. Ela fez um convite direto às seguradoras, ressaltando a importância de sua participação na construção de cidades mais resistentes às mudanças climáticas, especialmente nas regiões fluminenses.
Complementando essa visão de prevenção, o jornalista João Lara Mesquita, especialista em deterioração do litoral, sublinhou a necessidade urgente de aprender com tragédias passadas, como a de São Sebastião, onde uma grande perda humana motivou ações preventivas somente após o ocorrido. Mesquita alertou que, mesmo que a emissão de gases de efeito estufa fosse interrompida hoje, o efeito residual na atmosfera continuaria impactando o clima por milhares de anos.
O encontro destacou, assim, a importância de ações integradas e preventivas, com foco na sustentabilidade e na conscientização da sociedade, para minimizar os impactos das mudanças climáticas. O papel das seguradoras se consolida como fundamental na adaptação e resposta a eventos extremos, em um cenário onde a urbanização e o aquecimento global aumentam os riscos.
Fonte: Segs