Com impactos de desastres naturais em alta, setor de seguros se mobiliza para aumentar proteção e reduzir riscos
As consequências das chuvas custaram até US$ 300 bilhões às seguradoras no mundo, de acordo com cálculos de José Goldemberg, PhD em Física e ex-ministro de Educação e de Saúde, durante encontro promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Sindicato das Seguradoras de São Paulo (SindsegSP) e Academia Paulista de Letras nesta semana, na capital paulistana.
Nas últimas quatro décadas, segundo Goldemberg, o número de grandes desastres aumentou, e a precipitação de água é o fenômeno mais representativo. “Com o aumento da temperatura, ocorre a intensificação das turbulências na atmosfera, o que gera instabilidade. Esse desequilíbrio acaba se transformando em chuvas inesperadas, pois há mais água na atmosfera”, explicou. Para o professor, a solução do problema passa pela redução de emissões ou identificação da causa que está levando a esse aquecimento.
Os efeitos dos eventos climáticos são sentidos no mundo inteiro. No Brasil, um exemplo recente relevante é o caso do Rio Grande do Sul, onde as seguradoras já desembolsaram R$ 6 bilhões em indenizações. Na última semana, a Espanha sofreu com chuvas e inundações extremas que já deixaram mais de 200 mortos e dezenas de desaparecidos. Os Estados Unidos, apenas neste ano, já tiveram de lidar com o prejuízo causado por dois furacões, o Helene e o Milton. “Nunca planejamos para agir depois dos acontecimentos. Nós estamos atrasados em todos os sentidos”, destacou Antonio Penteado Mendonça, presidente da Academia Paulista de Letras e especialista em seguros.
Eventos climáticos no Brasil
Para Rivaldo Leite, presidente do SindsegSP, o Brasil está vivendo nos últimos anos experiências cada vez mais difíceis, como a de Petrópolis, em 2022; no litoral de São Paulo, em 2023; e no Rio Grande do Sul, neste ano. “Cada mudança climática nos traz oportunidades de melhoria no processo de criação de produtos de seguros, além de produtos mais abrangentes para que a população tenha consciência da importância de se ter uma apólice de seguro”, contou.
“Os eventos que aconteceram mostram que estamos em estado de emergência e precisamos ficar em alerta, assim como compreender a importância do seguro para lidar com essas perdas”, disse Carlos Queiroz, diretor da Superintendência de Seguros Privados (Susep), adiantando que a autarquia está desenvolvendo um estudo focado na tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul, buscando incentivar uma maior participação do mercado de seguros na sociedade. Segundo ele, o objetivo é ampliar o acesso e a conscientização para que as pessoas busquem mais produtos de seguro, de modo que o setor esteja mais apto a responder em caso de uma tragédia similar à que afetou o estado gaúcho.
Complementando a visão de Queiroz, Ana Cristina Barros, diretora de Sustentabilidade da CNseg, acredita que o setor de seguros pode ir além da resposta reativa aos desastres, incentivando ações antecipadas para enfrentar fenômenos climáticos e fortalecer uma cultura de sustentabilidade. “Atualmente, 30% das perdas no mundo são seguradas; no Brasil, apenas 10% dos eventos são cobertos por seguros. Então precisamos que as estratégias olhem para o seguro e que coloquem um guizo no nosso pescoço,” afirmou, reforçando a necessidade de sinalizar esses riscos de forma mais eficaz e integrada ao planejamento preventivo do setor.
Auxílio dos dados
Nesse contexto, a análise de dados meteorológicos e modelos preditivos podem ser ferramentas estratégicas para as empresas do ramo anteciparem a avaliação mais precisa dos riscos climáticos, como tempestades, enchentes, secas, incêndios florestais, entre outros, explica Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus, consultoria meteorológica. “Com base nessas análises, as seguradoras podem identificar áreas geográficas mais vulneráveis e ajustar suas apólices com base no risco, precificando os seguros de maneira mais precisa e ajustando coberturas conforme necessário”, diz Nascimento.
Também podem ajudar a reduzir sinistros (ocorrência do risco previsto no contrato de seguro), já que as seguradoras podem usar essas informações para ajudar seus clientes a tomar medidas preventivas antes de eventos climáticos severos. “Por exemplo, alertas antecipados sobre uma tempestade iminente podem permitir que proprietários de imóveis ou veículos se preparem, minimizando os danos e, consequentemente, os sinistros”, acrescenta, servindo inclusive como complemento aos alertas de risco emitidos por órgãos como a Defesa Civil.
Para Nascimento, nos últimos anos o cidadão também vem ficando mais preocupado com as questões climáticas e buscando mais informação para se preparar e evitar prejuízos.
Fonte: InfoMoney – Online