Baixo carbono, antes rejeitado, ganha atenção de empresas de seguro, já que as perdas por desastres ultrapassam US$ 100 bilhões por ano

Praticamente todas as seguradoras globais agora incluem pelo menos uma meta de transição para baixo carbono em seus planos de investimento, uma mudança drástica em relação a dois anos atrás, quando apenas 2% delas tinham compromissos reais, segundo a última pesquisa da BlackRock com a indústria.

A pesquisa, realizada com 410 executivos seniores de empresas que, juntas, possuem US$ 27 trilhões em ativos, destaca a importância que as seguradoras atribuem à compreensão das mudanças climáticas e às oportunidades de longo prazo que veem no financiamento da transição.

57% das seguradoras atribuiu seu interesse em investir na transição à necessidade de gerenciar e mitigar os riscos climáticos. As perdas globais seguradas por catástrofes naturais ultrapassaram US$ 100 bilhões pelo quarto ano consecutivo em 2023, e a Moody’s estimou que os recentes furacões nos EUA, Helene e Milton, devem gerar até US$ 55 bilhões em perdas.

Apesar da significativa reação política contra iniciativas verdes, particularmente nos EUA, dois terços das seguradoras globais disseram à BlackRock que tinham mais convicção em investimentos de transição do que há um ano. A parcela com maior entusiasmo por investimentos de transição foi maior na América do Norte, com 73%, enquanto a América Latina ficou em menor nível, com 58%.

“Para as seguradoras, além da questão política, elas precisam olhar para os riscos climáticos e de transição tanto da perspectiva de responsabilidade ativa quanto de uma responsabilidade passiva”, disse Mark Erickson, chefe global do grupo de instituições financeiras da BlackRock. “Se você é uma seguradora de [propriedade e acidentes], está lidando com os efeitos de incêndios florestais e furacões.”

99% das seguradoras possuem pelo menos um objetivo de baixo carbono, sendo a meta de emissões líquidas zero até uma data específica a mais comum globalmente, enquanto as metas de redução de emissões ano a ano são as mais populares nas Américas do Norte e Latina. 54% das seguradoras globalmente disseram que estavam respondendo aos interesses de acionistas e segurados.

Muitos gestores de recursos, incluindo a BlackRock, estão falando menos sobre investir com base em fatores ambientais, sociais e de governança (ESG), ao mesmo tempo em que aumentam suas ofertas em energia verde e infraestrutura de baixo carbono.

O compromisso das seguradoras em abordar as mudanças climáticas surge enquanto investidores individuais estão se tornando mais céticos em relação ao ESG. Uma nova pesquisa da Associação de Companhias de Investimento revelou que a porcentagem de investidores que consideravam o ESG parte de seu processo de investimento caiu pelo terceiro ano consecutivo, para 48%, em comparação com um pico de 65% em 2021 e 53% no ano passado.

A proporção de pessoas que acreditavam que o investimento em ESG traria melhor desempenho caiu para 17%, em comparação com o pico de 33% em 2021, segundo a pesquisa.

Fonte: Folha de S. Paulo