A Porto Saúde se prepara para uma “ofensiva” no mercado do Rio de Janeiro. Vai lançar aqui um plano de cobertura regional, voltado para pequenas e médias empresas, sem reembolso, mas com preços estimados pela empresa como 25% abaixo dos similares de rede aberta.
Além disso, pretende lançar um novo plano nos moldes tradicionais, com abrangência nacional, reembolsos menores, coparticipação em terapias, com perspectiva de preços 15% inferiores aos da concorrência. A empresa também está trazendo para o Rio o modelo de Time Médico da Porto para consultas marcadas pelo aplicativo.
A aposta da empresa está alinhada com a visão de futuro do mercado. Para Sami Foguel, CEO da Porto Saúde, o modelo tradicional de plano no qual o usuário escolhe o médico, não tem coparticipação e há amplo acesso a reembolso tende a ficar muito caro, além de ser altamente sujeito a fraudes.
Para este ano, a empresa avalia que os reajustes serão menores do que os do ano passado, mas “significativos”, na faixa de dois dígitos. Embora o market share da companhia, que atua em São Paulo, Rio e Brasília seja pequeno, a expansão tem sido acelerada. E a empresa de saúde já representa 16% do faturamento da Porto, que inclui ainda a Porto Seguro e Porto Bank.
Veja a seguor os principais trechos da entrevista:
A empresa está apostando no Rio. O que vão lançar aqui?
A primeira novidade é a chegada do Time Médico da Porto no Rio. Já temos em São Paulo, no litoral paulista, em Campinas. Somente em fevereiro em São Paulo, foram 30 mil consultas. São consultas presenciais, com 15 chefes de especialidades, quase 50 especialidades. O médico segue curadoria nossa.
A gente vem trabalhando para construir esse Time Médico da Porto no Rio com mais de cem médicos. Já tenho mais de 50 mil vidas no Rio. Todos os segurados do Rio passam a ter acesso a essa equipe.
Quantos usuários têm no país?
Temos quase 550 mil vidas na área de saúde e 800 mil no odontológico.
Estão investindo em novos modelos de planos?
Vamos lançar no Rio a Linha Rio Pro. Ela nasceu há um ano em São Paulo, em fevereiro, com conceito de excelência em medicina que cabe no bolso. Fomos pioneiros e fomos imitados pela competição. Fizemos parceria com algumas redes de hospitais de excelência, como Hospital São Lucas Copacabana, Hospital Pasteur, Santa Lúcia Hospital e Maternidade e Casa de Saúde São José (Rede Santa Catarina).
Não tem reembolso, mas tem acesso ao Time Médico da Porto, aos hospitais e à rede credenciada. Não tem limitação. Todas as consultas estão inclusas. Ele é 25% mais barato que o equivalente com a rede aberta. A linha mais básica fica pouco abaixo de R$ 200. Temos a linha Bronze, Prata e Ouro.
É um produto focado em pequenas e médias empresas, de três até 99 vidas. É um produto regional, focado no Rio. Fora, só tem cobertura de urgência e emergência. Esse produto em São Paulo já tem 23 mil vidas em um ano.
O futuro do mercado vai ser de planos mais enxutos?
O mundo pós-pandêmico é muito diferente do pré pandemia. Planos de saúde que têm redes abertas, grandes reembolsos, sem coparticipação, produtos diamante em que eu escolho meu médico, são muito suscetíveis a fraudes e à falta de controle de abusos. São produtos que vão ficar muito, muito caros. É como a primeira classe da aviação. Hoje ficou tão caro que você entra no avião e só tem executiva e econômica. O que o paciente precisa é de um corpo clínico que o atenda, hospitais e tratamentos. E ser muito bem cuidado.
Qual é o perfil da empresa que adere a esse modelo?
Há concentração importante na faixa de três a 29 vidas, mas tem também de 30 a 99. Nessa segunda faixa, a empresa mescla um pouco. Os níveis gerencial e acima ficam com plano tradicional, e os funcionários, com o produto regional. Consegue começar a dar acesso a mais pessoas da empresa, algo que de outra forma não daria.
Mas se o usuário viaja, vai para a Bahia e quebra a perna?
Funciona como um produto de cobertura internacional. Antes de viajar, o usuário avisa e recebe apólice de seguro de urgência e emergência. Vai ser atendido se quebrar a perna. O que não pode é chegar na Bahia e fazer consulta eletiva.
Como a empresa tem lidado com as fraudes?
A preocupação é enorme. Fomos a primeira empresa em saúde que colocou toda uma camada de inteligência no aplicativo para não só ter reconhecimento facial, mas também para barrar reembolso de fraude, com múltiplas autenticações. A gente tem atuado com a Fenasaúde (federação que representa operadoras e seguros privados de assistência à saúde) na identificação de quadrilhas, algumas com ação policial. Falamos com os empregadores, pois isso volta no reajuste.
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Existe a fraude de ‘vou ao dermatologista, mas na verdade é botox’. E tem o reembolso assistido: clínicas que fingem ser credenciadas, mas não são. Na apólice da Porto não tem mais reembolso para todo mundo de exame médico. Quero fazer na clínica que vou? Não tem. Mas tem um monte de clínica maravilhosa que você não paga nada.
Essas ações deram resultado?
Ano passado economizamos entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões.
O setor caminha para ter menos reembolso?
O grande motivador de fato é a fraude. Você chega numa clínica e repassa seus dados. Em muitos casos faz dois exames, e o cara registra que foram cem. Isso é comum. Não é questão de cercear atendimento, mas de tirar bandidos. É uma tendência não ter reembolso ou ter reembolso cada vez menor para estimular o uso de redes saudáveis com excelência em medicina.
Depois da pandemia, houve aumento na procura por consultas. Como está isso hoje?
A gente está muito mais perto do pré-pandemia, todo ano aumentava a frequência de 10% a 15%. Se pegar anos anteriores, era assim, com novas tecnologias, novos acessos e um sistema azeitado. No pós-pandemia, estourou pois muita gente represou exames e depois teve que fazer.
E como vê o cenário para o reajuste?
O individual a gente não faz, não tem apetite de risco para fazer. Os reajustes este ano vão ser menores do que os do ano passado, mas em patamares importantes, de dois dígitos.
Algo entre 10% e 20%?
Por aí.
Ano passado foi quanto?
Acima de 20%.
Qual é a estratégia de expansão da Porto Saúde?
Nosso market share ainda é muito pequeno. A gente está em São Paulo, capital e interior; Rio, capital e interior; e entrando em Brasília. A gente tem 3%. Saímos de 1% para 3% em dois anos. Tem um espaço para ocupar que é nosso mercado natural. Gradativamente, vamos encostar nos competidores maiores. O foco é crescer nessas três regiões.
O crescimento é via inclusão de usuários ou captando clientes de outras empresas?
O sistema de saúde suplementar no Brasil é visto como substitutivo e isso é super elitista. Você tem 51 milhões de vidas cobertas, 24% da população que consomem 65% dos recursos que vão para a saúde no Brasil. É um sistema generoso para quem está dentro, mas é pensado para ser elitista. Pouca gente tem acesso porque é muito caro.
Olha o setor de telecomunicações: tem o pré-pago, o controle e o pós-pago. Tudo regulado e está tudo bem. Se você dissesse que só pode ter 5G com navegação ilimitada não teria o número de linhas que tem hoje. Na saúde tem muito pouca diferenciação. E os únicos regulados são operadoras e seguradoras. Quem gera o custo, hospitais, clínicas, fabricantes de próteses não são.
Mais de 90% dos planos avançam com rouba-monte, vindo da competição. O que favorece a Porto é o momento de transformação no setor de saúde nos últimos anos. A Allianz desistiu de operar no país em saúde. Teve a venda da Amil. Duas grandes fusões. A gente está muito focado em trabalhar para o cliente. Esse modelo em 2014 e 2015 tinha 50 milhões de pessoas, depois caiu para 47 milhões e agora está em 51 milhões. Estamos no mesmo patamar de dez anos atrás.
Estão investindo em novos planos no modelo tradicional?
Vamos lançar no Rio uma linha Brasil, a Linha Porto Saúde, que vai de pequenas empresas a grandes grupos empresariais. Tem reembolsos, mas menores, tem coparticipação obrigatória em terapias.
Vamos comercializar em São Paulo, interior, Rio e interior e Distrito Federal. Tem cobertura no país todo e é 15% mais barata. Fizemos parceria com grandes grupos, por exemplo Hospital Samaritano e Hospital Albert Einstein, no Rio de Janeiro, e Sírio-Libanês e São Camilo, de São Paulo. É para quem quer ter acesso a reembolso, quer um produto com abrangência Brasil, mas quer algo um pouco mais em conta.
Fonte: O Globo