A taxa de crescimento econômico do Brasil para 2014 ficou mais incerta depois da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2013, que mostrou retração de 0,5%. Para o próximo ano, especialistas esperam um ano com desempenho moderado, semelhante ao de 2013. Ao longo deste ano, a indústria em desaceleração, o dólar em alta e a inflação resistente ditaram o ritmo de país. Para o próximo ano, a política monetária no país e as diretrizes do Fed devem ditar o ritmo do avanço econômico no Brasil.
“Estamos em um cenário de aumento dos juros, indústria em desaceleração e o comércio perdendo força, então, a tendência é que no ano que vem a economia siga ainda em ritmo lento”, disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal. O economista prevê alta de 2% em 2014, puxada principalmente pelos investimentos em infraestrutura, “destaques em ano de eleição presidencial”.
De acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) elaborado pela economista Silvia Matos, as expectativas de crescimento estão divididas em três grupos – a do mercado, que prevê crescimento de 2,2%, com base na desaceleração do investimento; a dos otimistas, de 3%, com base na recuperação do investimento pela infraestrutura, câmbio estável em R$ 2,30 e reajuste de energia e gasolina. Para Silvia, 2014 será um ano difícil para o governo, no qual a equipe econômica terá que começar a “arrumar a casa” antes do esperado. “O dólar forte e o câmbio depreciado é ruim para a nossa economia. Além disso, temos visto o crescimento fraco de alguns setores que é muito ruim para as contas públicas”, disse.
Segundo o estudo, a confiança de todos os setores da economia continua fraca, com desaceleração expressiva. Com relação ao mercado de trabalho, Silvia explica que a população ocupada tem crescido, mas aquém do mesmo período do ano anterior. “Os jovens estão participando menos do mercado de trabalho e a população ocupada está crescendo pouco”, afirmou.
A inflação ainda resistente em 2014, a menor oferta de crédito e os juros em elevação devem deixar o PIB na faixa de 1,7% nas projeções do economista Cristiano Souza, do Banco Santander. Souza aposta na continuidade da política monetária conservadora ao longo de 2014. “A inflação deve continuar em alta devido às indexações [no reajuste de tarifas de serviços públicos]. Além disso, o governo deve elevar a taxa básica de juros à faixa de 11%. Por onde se olhe, não há onde encontrar grandes impulsos para crescimento da economia”, diz.
Após a retração do PIB do terceiro trimestre de 2013, o Banco Itaú, em relatório, reviu a projeção de crescimento da economia de 2014. O PIB, de acordo com o economista Aurélio Bicalho, “poderá ficar abaixo da expectativa de 1,9%, devido a uma possível retração das contas do quatro trimestre”.
Para o professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Bruno De Conti, 2014 será melhor. “A melhora da balança comercial, atrelada a maiores investimentos em infraestrutura e melhor participação do setor de petróleo, deve impulsionar a economia, diferente do que aconteceu ao longo deste ano”. Segundo Conti, 2013 foi pautado pela “pressão macroeconômica sobre o governo, que esperava maiores investimentos do setor privado, mas sem sucesso”. De acordo com o economista, a melhora do PIB estará diretamente ligada ao crescimento dos investimentos, em especial, das concessões em infraestrutura.
Melhor cenário nos EUA
Ao longo de 2013, a política monetária dos Estados Unidos causou desconfiança no mercado brasileiro, mas, para o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas Samuel Pessôa, a maior influência das decisões norte-americanas sobre a economia brasileira já passou. “A Selic já foi elevada durante 2013 e teremos, em 2014, menores ajustes nos juros, seguido de um processo de normalização das condições monetárias nos EUA”, afirmou.
Para Pessôa, a expansão da economia em 2014 será inferior à de 2013 e não deve ultrapassar os 1,8% projetados pelo Ibre. “Algum ajuste fiscal deve ser adotado em 2014, mas a maior parte deve ficar mesmo para 2015”, disse.
Mais otimista, o economista Fernando Sampaio, sócio-diretor da LCA Consultores, estima alta de 2,5% para o PIB em 2014, impulsionado por um cenário global melhor. Para ele, os bons indicadores americanos e a maior confiança do empresariado devem puxar para cima os resultados econômicos do Brasil e do mundo. “Os impasses político-econômicos nos Estados Unidos que apareciam como uma casca de banana para a economia mundial estão se dissipando”, disse.
Fonte: Brasil Econômico