As grandes empresas e governos podem ser fortes aliados no combate aos efeitos danosos das mudanças climáticas e na busca pelo cumprimento de metas ambientais. Esta foi uma das conclusões entre os debatedores do CNN Talks: COP28, iniciativa da CNN Brasil na área de eventos, realizado na noite desta terça-feira (28) em São Paulo. Autoridades governamentais e executivos de alto escalão de empresas de atuação relevante junto ao meio ambiente debateram os principais temas que estarão em pauta na 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontecerá em Dubai, nos Emirados Árabes, partir desta quinta-feira, 30 de novembro.
Com mediação do âncora Márcio Gomes e entrevistas feitas por Elisa Veeck, as discussões abordaram qual o papel das empresas nas ações das mudanças climáticas e as iniciativas na prática sustentável para a redução de emissões. Como o movimento ativo das empresas pode influenciar políticas públicas voltadas para a sustentabilidade? Quais são os incentivos e desafios para as empresas ao investirem em planejamentos ambientais responsáveis? Como o Brasil pode liderar efetivamente os esforços globais para combater as mudanças climáticas? Como o protagonismo do Brasil na agenda verde pode influenciar as políticas ambientais em outras partes do mundo? Os questionamentos levantados na ocasião norteiam os desafios e expectativas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP28.
O CNN Talks faz parte de uma agenda anual da CNN Brasil, cujo objetivo é proporcionar experiências diferenciadas para a audiência da emissora, sempre pautada em sua credibilidade e relevância como um importante player global de mídia.
O primeiro painel, denominado “A Transição: Novos Caminhos para a Contenção dos Impactos Climáticos”, contou com participação de Malu Paiva, vice-presidente de Sustentabilidade da Vale; Camila Gualda Sampaio, vice-presidente executiva de Governança, Riscos e Conformidade e diretora de Sustentabilidade da Eletrobras; Patricia Ellen, executiva da Aya Earth Partners e Systemiq; Alexandre Baldy, chairman no Conselho de Administração da BYD, além de e Maurício Tolmasquim, diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras.
Patricia Ellen foi a primeira a falar sobre a necessidade de se reconhecer que todos os setores precisam passar por um modelo de descarbonização da economia. “Em termos de Brasil, há uma grande oportunidade de descarbonizar a economia. Então, a COP30 começa agora. Ir para Dubai e ser uma liderança nessa transformação é muito importante”, afirmou. Endossando a frase “O Brasil é o novo Oriente Médio, o Oriente Médio verde”, argumentou: “Sim, porque o petróleo da vez na natureza é a capacidade de zerar o carbono, e não tem nenhum país com oportunidade de produzir energia limpa como nós temos.” A executiva da Aya lembra que é preciso cumprir a agenda global, de zerar essas emissões até 2050, mas diz acreditar que o país tem uma chance muito mais ambiciosa. “A Finlândia lançou um plano para ser carbono neutro em 2035. O Brasil também tem condição de antecipar essa realidade”, diz, alertando para a questão da transparência, já que cada vez mais empresas vêm sendo cobradas a assumir responsabilidades nesse processo.
Na sequência, Malu Paiva, da Vale, reconheceu que a mineração depende da natureza e ao mesmo tempo causa impacto: “Temos obrigação de mitigar o impacto”. Para ela, é possível produzir e preservar simulaneamente. A executiva citou a criação do Instituto Tecnologia Vale como um recente programa de genoma de biodiversidade da Amazônia. Ela ainda alertou para a necessidade de ajuda do sistema financeiro para alcançar escala nessas iniciativas, bem como a união entre as empresas, a fim de “competir menos e gerar mais juntos”. E observou que o planejamento de descarbonização não pode se transformar em um mais um processo que amplie a desigualdade, pois ele deve gerar renda. Assim, é necessário que as empresas atuem sempre em parceria com o governo e as comunidades. “O propósito das empresas hoje em dia passa por aí”, arrematou.
“O Brasil, no que diz respeito à transição energética, está muito à frente”, disse Mauricio Tolmasuim, da Petrobrás, ao citar dados internacionais em comparação com nosso país: “Em energia elétrica, 30% do mundo usa fontes renováveis; no Brasil, no ano passado, 92% foi gerado com energia renovável. No transporte no mundo, menos de 5% é de renováveis; no Brasil estamos na faixa de 25%.” À luz desses dados, declarou: “A gente tem condição de ser líder no mundo. Nós fomos abençoados com uma riqueza de recursos naturais fabulosa”, destacando ainda demais fontes, como energia eólica e solar. O dirigente também citou que a Petrobras vai usar óleo vegetal na produção de combustível para aviação. E citou a capacidade da Petrobras de produção de hidrogênio cinza. “Nós, brasileiros, temos tudo para liderar esse projeto de transição energética no mundo. Nós não temos o direito de deixar passar essa oportunidade. Fomos abençoados por uma gama de recursos que nos permitem liderar esse processo”, assinalou.
Camila Gualda Sampaio, pela Eletrobras, afirmou que a empresa trabalha com o compromisso de emissão zero de carbono até 2030 e há um plano de desinvestimento ao lado de outros pilares de ação, sendo um dos mais urgentes a revitalização de bacias hidrográficas, como a do Rio São Francisco. Há investimentos nos próximos dez anos para revitalização de nascentes, controle de erosão, de forma a mitigar os impactos do clima. “A Eletrobras é prioritariamente uma geradora de energia limpa hidráulica e eólica, fontes renováveis e natural. E, de fato, precisamos da natureza para garantir. A nossa estratégia consiste nesta preservação. Temos um programa importante em relação à Amazônia. A gente já começou um trabalho forte para trocar a geração de energia a óleo por energia solar.” A executiva destacou que a empresa está presente no país inteiro.
Alexandre Baldy, da BYD, falou do segmento automotivo e sustentabilidade. “Quando observamos as duas maiores potências mundiais, EUA e China, com a direção muito forte em eletrificação de frota, o Brasil e o restante do mundo caminharão no mesmo sentido. Quando você escuta os desafios, pessoas, natureza e desenvolvimento, o carro elétrico é uma visão de quebra de cultura”. Ele destacou a produção da BYD, até outubro deste ano, de 300 mil veículos elétricos/híbridos, além de a empresa se firmar como a segunda maior fabricante de baterias. “A eletrificação de frota se dará em diversas economias e sobretudo no Brasil”, afirmou.
Governos e prevenção
No segundo painel da noite, “Brasil: o Protagonista da Agenda Verde no Mundo”, participaram Helder Barbalho, governador do Pará; Claudio Castro, governador do Rio de Janeiro; Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Governo do Estado de São Paulo; e Dyogo Oliveira, diretor-presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
Helder Barbalho falou da expectativa para esta COP28 e como o Estado que governa se prepara par sediar a COP30, que se realizará em 2025 na capital, em Belém: “Esta COP em Dubai tem certamente uma das mais importantes agendas, quando serão revistas as metas estabelecidas em 2015 e lamentavelmente se constatará que não se cumpriram. Associando com a COP30 em Belém, na COP28 estarão se lançando novas metas. Belém será Paris +10, quando estaremos avançando sobre Paris”. Segundo Barbalho, a diplomacia ambiental exige do Brasil posicionamento. “Lamentavelmente, vivemos um passado de negacionismo ambiental, o que colocou o Brasil como pária. Esse é o momento de oportunidade de chegar à COP demonstrando que o Brasil volta à agenda e, consequentemente, com redução de emissões. Mas não basta isso”. Ele diz ser fundamental que possamos apresentar uma nova visão do uso do solo, fazendo com que floresta viva possa valer mais do que floresta morta. E tudo sem se esquecer de que a Amazônia tem 29 milhões de pessoas que nela habitam, “Nada que não inclua as pessoas será sustentável”, cravou o governador do Pará.
Para Helder Barbalho, o importante é a busca de um legado para a COP30 em Belém “e como transformar numa cidade hospitaleira para receber 70 mil pessoas em duas semanas, delegações do mundo todo. Estamos garantindo investimentos para que a cidade possa melhorar, possa ampliar a oferta de leitos, para que a gente possa fazer frente”. E prosseguiu: “Quem quiser hotéis 6 estrelas, vá para outro lugar. Belém tem a maior floresta do planeta. Floresta e gente, gente e floresta.”
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, por sua vez, destacou as peculiaridades do seu Estado no cenário ambiental e da indústria energética. “O Rio é essa complexidade natural. È o maior produtor de óleo e gás, somos ao mesmo tempo os maiores produtores de energia limpa do Brasil na política de biogás, estamos entre os dez maiores de energia solar. A gente inaugurou no Rio o gás do pré-sal. Essa transição no Rio já começou. O Rio faturou 30 bilhões entre royalties o ano passado”, afirmou.
O tema saneamento dominou a participação da representante do governo estadual de São Paulo, a secretária do Meio-Ambiente, Natália Resende. Ela destacou que, nos municípios atendidos pela Sabesp, é ainda preciso avançar no atendimento a mais 1 milhão de pessoas. “Tem de trabalhar para fazer mais concretamente ações de sustentabilidade”, disse. Ela alertou para a necessidade de chamar sócios privados para levar saneamento a essas pessoas. “Essa é uma pauta ambiental que precisa estar nos projetos”.
Dyogo Oliveira, pela CNseg, explicou que o setor de seguros já sentiu as mudanças climáticas no próprio pagamento de indenizações. Para ele, a transição climática já aconteceu, os países não cumpriram as metas e o prejuízo já está dado. “Nossa infraestrutura não está preparada para isso. O Brasil não se preparou com instrumentos de contenção a danos. A rede pluvial não está preparada, a rede elétrica não está preparada”. Daí a importância da prevenção, observou, e como o segmento que ele representa tem papel fundamental na reparação dos estragos que já estão previstos. “Nos últimos dez anos, os incidentes climáticos causaram 320 bilhões de danos”, calculou. “O setor tem um papel fundamental, já que tem R$ 1.8 trilhão em reservas que podem ser utilizados com alterações regulatórias, com incentivos ao setor; podem ser utilizados para os projetos de energia limpa, de transição econômica”. Oliveira lançou uma ideia da indústria, que é a proposta de criação de um seguro de catástrofe no Brasil. “A ideia de que todas as residências tenham um seguro barato”, disse, lembrando que apenas neste ano 1.700 municípios do país já tiveram eram ocorrências climáticas.
As entregas de conteúdo sobre o CNN Talks acontecerão nas plataformas CNN Brasil.
CNN Brasil na cobertura especial da COP28
Para as duas semanas da COP28, a chamada Conferência do Clima, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a CNN Brasil contará com dois enviados: Americo Martins, correspondente sênior da CNN Brasil em Londres, e o repórter especial Mathias Brotero. Durante toda a programação, os jornalistas produzirão uma série de boletins e reportagens, com todas as informações, análises, e bastidores do evento, que reúne no Oriente Médio os principais governantes e especialistas mundiais no tema.
A principal pauta deste ano é o global stocktake, um balanço dos compromissos assumidos no Tratado de Paris, em 2015 A ideia geral do encontro é avaliar o que já foi feito até agora e se os países estão cumprindo as metas prometidas no acordo.
A cobertura em Dubai terá boletins e reportagens especiais, com highlights do evento e pílulas informativas nos telejornais da CNN Brasil e em todas as plataformas CNN Brasil: TV, YouTube, Redes Sociais, Prime Video e Rádio CNN.
Fonte: Portal TV e Streaming