A Covid foi um terremoto no turismo e reforçou ainda mais a importância de viajar para o exterior protegido. Setor viveu ‘divisor de águas’ e teve que renovar suas coberturas
O seguro-viagem não é obrigatório para visitar muitos países, mas se tornou um item de primeira necessidade para quem quer ir para fora despreocupado depois do impacto da pandemia sobre as viagens — inclusive com turistas retidos no exterior enquanto fronteiras eram fechadas. Conflitos armados como o desencadeado em Israel há poucas semanas também assustam.
As apólices têm se adequado para oferecer assistência para situações que antes não eram previstas, como a infecção por Covid-19. Para conquistar os mais prudentes, seguradoras também oferecem coberturas extras, benefícios e descontos em estabelecimentos parceiros.
— O cenário de pandemia foi um divisor de águas tanto para o consumidor quanto para nós. Identificamos uma mudança no comportamento de compra, na qual o seguro-viagem deixou de ser um item opcional e passou a ser essencial para nossos clientes — diz Rivaldo Leite, que dirige a Porto Seguro, do Grupo Porto.
Do lado das seguradoras, houve a inclusão da cobertura para pandemias nas apólices. Segundo Nelson Emiliano Costa, vice-presidente da Comissão Atuarial da FenaPrevi, apesar de não ter havido uma mudança na regulamentação obrigando as seguradoras a cobrirem situações relacionadas à pandemia, a maioria fez essa adequação por conta própria.
Guerra não é coberta
Diretor de Vida e Previdência da SulAmérica, Victor Bernardes explica que o seguro-viagem pode cobrir bem mais que despesas médicas. Abrange imprevistos como cancelamentos de viagens e gastos com documentação, recorrentes na pandemia. Também pode resolver a vida de quem tem malas extraviadas ou bens como celulares e câmeras furtados no meio da viagem. Depende do escopo da cobertura.
— Após o período de pandemia, os brasileiros passaram a se preocupar mais com a própria qualidade de vida. Para fornecer produtos atrativos, é necessário que o mercado enxergue o conceito de saúde como algo transversal. O seguro, além de zelar pela saúde física de seus contratantes, evita situações de estresse e burocracias que, muitas vezes, demandam esforço emocional significativo — diz Bernardes.
Com as guerras, porém, a situação é diferente. Bernardes explica que a maioria das condições gerais dos seguros-viagem no mercado não dá esse tipo de cobertura, como custear as despesas de alguém retido num país por causa de conflito armado. O que não impede que as seguradoras tratem os casos de forma excepcional, a depender de cada situação.
— Na maior parte dos seguros, a guerra é um risco excluído. Até porque, normalmente, essas situações também são excluídas dos contratos de resseguro, e aí a seguradora teria que fazer um seguro específico para essa cobertura. Para envolver guerra, tem que ser uma contratação diferenciada — explica Costa, da Fenaprevi.
O que algumas seguradoras como a Porto têm feito nesses casos é prorrogar a cobertura, caso os clientes estejam impedidos de retornar de uma região de conflito, como aconteceu agora no Oriente Médio.
Num cenário de normalidade, a principal cobertura do seguro-viagem é relacionada aos serviços de saúde. Ao contrário do Brasil, em que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento universal gratuito, em muitos países, em especial, os EUA, custos com esses serviços podem ser muito altos, mesmo para emergências ou casos sem gravidade.
Uma consulta nos EUA pode custar US$ 200
Uma consulta média para gripe, enjoo, dor de ouvido ou alergia custa, em média, US$ 200 (R$ 1 mil) em Orlando e Miami, segundo levantamento da Porto. Uma torção de tornozelo pode resultar numa conta de US$ 6,5 mil (R$ 32,3 mil) em Nova York. A SulAmérica estima que uma cirurgia de apendicite custe até US$ 45 mil (R$ 224 mil) nos EUA, onde o custo médio de uma ambulância é de US$ 1 mil (R$ 5 mil).
Por isso a administradora Danielle Oitaven, 34 anos, só embarcou para Nova York com o marido, no início do mês, com o seguro em mãos:
— Nunca precisei usar o seguro-viagem, mas não conseguiria viajar tranquila sem. Qualquer intercorrência pode significar alguns milhares de dólares. A gente não está livre de ter uma emergência, um acidente, uma apendicite, então não viajaria sem essa proteção.
Dentista no pacote
A gerente de vendas Priscila Matias, de 36 anos, também não abre mão do seguro-viagem nas férias. As últimas também foram nos EUA, e ela disse ter pago cerca de R$ 1 mil no seguro. Seu próximo passeio será no Chile, e ela já está fazendo cotações. Além da proteção em caso de emergências médicas, Priscila também costuma contratar coberturas intermediárias, que incluem perda, roubo e extravio de bagagem e dentista.
— O custo do seguro-viagem não é muito alto em comparação com o que eu gastaria com uma consulta ou tratamento em outro país. Para a América do Sul, acho que meu seguro vai sair entre R$ 200 e R$ 300. Uma vez tive uma dor de dente na França e não tinha seguro. Acabei gastando € 500 (R$ 2,6 mil) no dentista. Desde então, sempre faço seguro e me sinto mais protegida.
Na hora de escolher a apólice, a recomendação é ter em mente o local da viagem e a duração da estadia. Nelson Emiliano Costa, da FenaPrevi, lembra que em países europeus, por exemplo, são comuns greves que implicam no cancelamento ou atraso de voos. Por isso, contratar um seguro que cubra esse tipo de problema é recomendável.
Viagem no país
Já para quem vai viajar para um outro estado no Brasil, o especialista aconselha verificar se o plano de saúde possui cobertura nacional. Se for regional, é possível contratar um seguro-viagem mesmo para uma viagem doméstica. Dessa forma, o viajante poderá utilizar a rede credenciada de hospitais particulares, sem depender apenas do SUS.
Algumas seguradoras oferecem apólices específicas para certos tipos de viagem, com pacotes diferentes para cada meio de transporte, como avião, carro ou navio. A Porto possui ainda o Plano Aventura, para destinos nacionais ou internacionais, com coberturas para quem vai praticar esportes radicais ou de aventura.
Vale pesquisar ainda quais os tipos de benefícios extras oferecidos pelas seguradoras, como serviços e descontos em lojas e estabelecimentos. A Allianz, por exemplo, oferece para os clientes do seu seguro-viagem condições diferenciadas em mais de 600 lounges e salas vip da rede Lounge Pass, que estão em mais de 350 aeroportos do Brasil e do mundo, além de 10% de desconto para compras no Dufry Duty Free Shop.
Simuladores ajudam
A tecnologia pode ajudar o consumidor a encontrar o melhor seguro para suas necessidades. Sites especializados permitem a comparação entre os pacotes de várias seguradoras. E elas têm investido mais em ferramentas de simulações em seus sites, tanto para corretores de seguros quanto para o consumidor.
— Para contratações pelo site, o cliente possui uma jornada digital intuitiva e que disponibiliza os diferentes planos, coberturas e capitais adequados àquela viagem — descreve Rivaldo Leite, da Porto Seguro.
A SulAmérica também permite que o cliente contrate a apólice diretamente em seu portal de e-commerce, com três opções de planos e personalização das coberturas.
Na Ciclic, fruto de uma união de BB Seguros e Principal Financial Group (PFG), o consumidor pode fazer uma cotação diretamente pelo site e, após contratar a apólice, tem atendimento em português de qualquer lugar do mundo através do WhatsApp. Para quem faz várias viagens no mesmo ano, a Ciclic tem o pacote Anual Multi Trip, que cobre todas as viagens que o segurado fizer em 12 meses.
Alguns cartões de crédito oferecem seguro-viagem a quem o usa na compra da passagem aérea, mas é importante avaliar a amplitude das coberturas, recomenda Costa. É uma boa forma de economizar, mas sempre é bom lembrar da máxima que diz que o barato pode sair caro.
Fonte: O globo