A próxima semana começa com fortes emoções em seguros. O FIDES RIO 2023 começa no domingo, 24, com um torneio de golfe, e termina com um baile de gala no dia 26. A maior conferência de seguros da América Latina chama a atenção do mundo de seguros. Apesar de uma certa instabilidade política econômica na região, o Brasil brilha nos olhos estrangeiros com o novo PAC e seus investimentos previstos em R$ 1,7 trilhão e com um PIB de agronegócio que poderá alcançar R$ 2,6 trilhões neste ano. Não é à toa que 60% das 1,5 mil inscrições são de estrangeiros, informou a CNseg, uma das fundadoras da Federação Interamericana de Empresas de Seguros, entidade sem fins lucrativos que agrega atualmente as associações de seguros privados de 20 países membros, e responsável por organizar a 38o edição do evento, que acontece a cada dois anos.
Desde cedo, participantes, patrocinadores e speakers estarão em encontros oficiais e paralelos. Sim, um evento deste porte tem a característica de gerar negócios. O primeiro evento da programação oficial é o tradicional jogo de golfe, que muito se tentou trocar para algo mais brasileiro como o beach tennis. Mas não rolou. Golfe, segundo relatam alguns dos praticantes do setor, ativa mais o cérebro neste período de renovação dos principais contratos de resseguro, principal fonte de capital para as seguradoras cumprirem suas promessas de crescer dois dígitos mesmo numa economia ainda em compasso de espera.
Este é período que antecede as principais negociações de contratos de resseguros no mundo. Num cenário tão complexo como o que vivemos atualmente, detectar tendências exige uma intuição pra lá de aguçada. E é essa a proposta da Fides Rio 2023, que acontece na sequência do principal evento de resseguros do mundo realizado em Monte Carlo de 9 a 13 de setembro. Um resumo das notícias sobre os debates em Mônaco é de que embora as condições de mercado estejam muito mais calmas do que a turbulência que eclodiu no quarto trimestre de 2022 até as renovações de janeiro de 2023, o equilíbrio do mercado de resseguros ainda está vulnerável a qualquer choque adicional.
Por isso, o foco está na troca densa de informações. Há dois mundos. Os salões de debates públicos do Windsor Hotel e as reuniões privadas para poucos convidados. Nos eventos oficiais, debatedores do porte do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, Luis Alberto Moreno, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Paul Krugman, prêmio nobel de economia (2008), além de todos os porta-vozes locais de governos, órgãos reguladores, seguradoras, resseguradoras, corretores, associações, advogados entre outros.
Os eventos privados serão realizados em rooftops e restaurantes reservados nos melhores cartões postais da cidade considerada maravilhosa. O tom, no entanto, é bem “pé no chão”, com conversas francas com os parceiros comerciais. Os investidores buscam informações para diversas questões e parcerias de longo prazo.
Entre elas: quais os riscos das obras do novo PAC ? O que o governo tem feito para garantir a transparência desses financiamentos e conclusão das obras nos prazos e valores acordados em contratos? A taxa de juros realmente entra num ciclo de queda? Quais os riscos da inflação sair do controle nos próximos dois anos? Como o Brasil se prepara para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas? Há novos casos como Americanas? Os contratos de seguros estão claros sobre o que está coberto ou não? Qual a perspectiva das eleições em 2024? E em 2026? Como se comporta a segurança jurídica neste governo? Quais são, de fato, os melhores negócios para manter a rentabilidade? O novo titular da Susep tem aparatos para fazer as mudanças que deseja no arcabouço regulatório?
As respostas podem ou não conquistar os resseguradores. Bom que conquiste, pois eles são essenciais para o crescimento do mercado de seguros brasileiro. Se não há capacidade de resseguro, as seguradoras têm três opções: correm o risco sem amparo do resseguro, cobram muito caro pelo seguro ou simplesmente não ofertam. Um exemplo disso é o risco cibernético. As resseguradoras mundiais restringiram capacidade e raríssimas seguradoras vendem o seguro cyber, mergulhado em profundas discussões sobre como atuar neste risco com elevada demanda sem levar as companhias à falência.
A boa notícia é que os investimentos em tecnologia tem aprimorado a subscrição de riscos, o gerenciamento de perdas, a redução das fraudes e potencializado a capilaridade dos canais de distribuição. E o resultado desta combinação é o lucro, exatamente o que todos querem garantir. Depois de quase cinco anos de perdas com pandemia, guerra entre Ucrânia e Rússia e catástrofes naturais, as resseguradoras conseguiram recuperar resultados, mas ainda não têm reservas suficientes para novas perdas catastróficas como temos visto com o terremoto em Marrocos e as inundações na Líbia.
E mais uma vez o Brasil se mostra uma oportunidade. Apesar da devastação no litoral norte em fevereiro e o ciclone tropical no Sul neste mês, o país ainda é considerado fora da zona de catástrofes naturais como outras regiões com perdas relevantes como os EUA com furacões ou o Chile com os terremotos.
Ao longo de 2022, as perdas econômicas decorrentes de desastres naturais na América Latina atingiram cerca de US$ 18 bilhões. No entanto, destes, aproximadamente US$ 4,8 bilhões foram cobertos por seguros, o que continua a reforçar a importância de reduzir a lacuna de proteção em toda a região. Também em 2022, os prêmios cedidos de resseguro na América Latina totalizaram US$ 19,2 bilhões, um aumento sólido de 9,9% em comparação com US$ 17,4 bilhões de 2021. Os três países que registraram os maiores aumentos nos prêmios cedidos foram o Brasil, que registrou avanço de 27,5%; Nicarágua, de 12,5%; e Costa Rica de 11,4%.
Segundo estudo da Fitch, os lucros das resseguradoras da América Latina serão apoiados no segundo semestre de 2023 e em 2024 por aumento de taxas, ganhos financeiros e forte demanda por proteção de resseguros. O desempenho do setor de resseguros da América Latina foi muito forte em 2022, favorecido por menores perdas relacionadas à pandemia e melhores preços de resseguros globais.
De acordo com a agência de classificação, os ventos contrários relacionados à alta inflação e às taxas de juros devem começar a diminuir, enquanto se espera que os efeitos das mudanças climáticas nas reivindicações de catástrofes naturais sejam avaliados de forma adequada. A aposta é que as resseguradoras da América Latina se beneficiem das condições globais de resseguro, priorizando preços, gestão de risco de catástrofe natural e crescimento orgânico de prêmios.
A agência também estima que o retorno do capital no curto prazo do setor excederá 8% a 10% do seu custo de capital. Além disso, é provável que os ratings da maioria das resseguradoras da América Latina permaneçam inalterados ao longo do horizonte de rating devido à melhoria das perspectivas para o setor de resseguros global.
Segundo a Fitch, o cenário base para os próximos 12 a 18 meses sinaliza que a maioria das resseguradoras da América Latina manterá capitalização e desempenho financeiro adequados, apesar dos riscos macroeconômicos conhecidos e do aumento das perdas por catástrofes alimentadas pelas mudanças climáticas. Com isso, o cenário mais otimista prevê que os prêmios cedidos continuem a ganhar impulso durante os próximos 12 a 18 meses, considerando o crescimento orgânico dos mercados de seguros da América Latina, a maior frequência de eventos de catástrofe natural e a crescente conscientização dos consumidores de seguros.
Que comecem os debates. Desejo que os corretores de re/seguro consigam boas negociações para que o seguro siga num ritmo de crescimento de dois dígitos e exerça seu papel social de apoiar o crescimento econômico do Brasil.
Fonte: Sonho seguro