Fogo que varreu um dos litorais mais ricos dos EUA na semana passada acumulou mais de US$ 50 bilhões (R$ 304,7 bilhões) em perdas
Um mercado de seguros em retração na Califórnia, nos Estados Unidos, pode deixar os moradores de Los Angeles mais dependentes de programas federais, apoio assistencial e de suas próprias economias.
O incêndio que varreu um dos litorais mais ricos dos EUA na semana passada acumulou mais de US$ 50 bilhões (R$ 304,7 bilhões) em perdas. A recuperação levará anos, e alguns moradores podem simplesmente vender o terreno e suas antigas casas. As informações são do Wall Street Journal.
Aqui está uma análise de quem pode acabar pagando o quê:
Seguradoras
O seguro deve cobrir cerca de US$ 20 bilhões (R$ 122 bilhões) das perdas do incêndio, estima o JPMorgan Chase.
Os bancos normalmente exigem que os proprietários com hipotecas coloquem suas casas no seguro. Alguns proprietários também exigem apólices. Mas alguns locatários e proprietários optam por ter pouco ou nenhum seguro; 12% dos proprietários nos EUA não compram seguro residencial, de acordo com uma pesquisa de 2023 do Insurance Information Institute e da resseguradora Munich Re. O seguro é menos comum em parques de casas móveis, como o Pacific Palisades Bowl Mobile Estates, destruído no incêndio na semana passada.
À medida que os desastres pioraram, as principais seguradoras se retiraram de áreas propensas a tempestades e incêndios, deixando os americanos com apólices caras e básicas. A State Farm disse no ano passado que não renovaria as apólices de 30 mil proprietários na Califórnia, incluindo 69% daqueles no bairro de Pacific Palisades, que foi duramente atingido pelos incêndios.
O plano estadual de catástrofes da Califórnia, o Plano FAIR, tinha 45l mil apólices residenciais em setembro do ano passado, um aumento de 40% em relação ao ano anterior. Apenas no Pacific Palisades, bairro residencial nobre entre as Montanhas de Santa Monica e o Oceano Pacífico, onde uma casa vale por volta de US$ 3 milhões (US$ 18 milhões), o plano estadual tem 1.430 apólices.
O Plano FAIR pode recorrer às seguradoras para ajudar a financiar os pagamentos, se necessário. Ainda assim, seguradoras, reguladores e consumidores estão preocupados com a solvência do Plano FAIR, dada a onda de incêndios caros. Uma porta-voz disse que o plano tem mecanismos para cobrir todas as reivindicações.
FEMA
A Agência Federal de Gestão de Emergências dos EUA (FEMA) vai ajudar a pagar os abrigos temporários, suprimentos e outras necessidades básicas após desastres.
A agência limita os pagamentos totais para assistência habitacional em US$ 43.600 (R$ 265 milhões) por pessoa ou domicílio e pode fornecer o mesmo valor para outras necessidades.
Mas esse dinheiro não cobre totalmente o custo de reparos de longo prazo. “Mesmo que você receba o valor total da assistência habitacional, isso não vai reconstruir uma casa”, disse Madison Sloan, diretora do projeto de recuperação de desastres e moradia justa da Texas Appleseed, uma organização sem fins lucrativos.
Contribuintes
O Tio Sam pode ajudar com mais do que assistência emergencial. Mas o recém-empossado Congresso de maioria republicana terá que autorizar essa ajuda adicional.
O Community Development Block Grant Program (Programa de Subsídios em Bloco para Desenvolvimento Comunitário, em português) do governo pode distribuir dinheiro para ajudar a consertar e reconstruir casas, assim que o Congresso autorizar.
Os legisladores levaram cerca de três meses para reservar dinheiro após a supertempestade Sandy e quase um ano e meio para aprovar fundos para ajudar a reconstruir Lahaina, no Havaí, a cidade de Maui destruída por incêndios florestais em agosto de 2023.
Durante seu primeiro mandato como presidente, Donald Trump mostrou relutância em enviar ajuda para Porto Rico após o furacão em 2017, levantando preocupações sobre corrupção antes de finalmente liberar bilhões de dólares.
Outro grande ponto de interrogação: se Trump planeja renomear a chefe da FEMA, Deanne Criswell. “Sua continuidade tende a ser útil na resposta a desastres”, disse Stan Gimont, que no início de sua carreira administrou o programa de subsídios em bloco para recuperação de desastres e é consultor sênior da Hagerty Consulting.
Os próprios moradores
Quando o seguro não cobre todas as perdas, os proprietários geralmente ficam presos com a conta restante.
Depois que o incêndio Marshall de 2021 varreu os subúrbios entre Denver e Boulder, no Colorado, um estudo apontou que 36% dos proprietários que entraram com pedidos de indenização de seguro descobriram que suas apólices cobriam menos de três quartos dos custos da reforma de suas casas.
Quando tornados devastaram Kentucky, Tennessee e outros estados no mesmo ano, alguns proprietários descobriram que suas apólices incluíam milhares de dólares em franquias.
Em áreas muito afetadas pelo incêndio, como Altadena e Pacific Palisades, onde os preços dos imóveis dobraram na última década, alguns proprietários podem decidir colocar suas terras valiosas no mercado, o que pode remodelar as áreas de Los Angeles.
Em um trecho do litoral de Nova Jersey, no nordeste dos Estados Unidos, devastado pelo furacão Sandy em 2012, muitos moradores locais acabaram vendendo suas propriedades para nova-iorquinos ricos que buscavam uma segunda casa. Jody Stewart, uma moradora de longa data, estima que 65 das 70 casas em sua rua mudaram de donos. “Aquela era uma comunidade trabalhadora, formada por pessoas comuns”, disse Stewart.
Fonte:Época Negócios