A acessibilidade, promessa de ganho fácil, variedade de modalidades e o marketing agressivo têm cada vez mais atraído a população brasileira, em especial os jovens, para as apostas online – conhecidas como bets – e um ciclo arriscado de perda de dinheiro, falta de planejamento, ausência de reserva financeira e problemas psicológicos. Hoje, essas tentativas de renda fixa e/ou extra são um dos desafios que o segmento de previdência privada enfrenta: enquanto  37% dos apostadores usam dinheiro destinado a despesas essenciais para jogar, apenas 2% dos brasileiros possuem um plano de previdência privada.

De acordo com dados do Banco Central, a despesa média mensal com apostas online via Pix chegou a R$ 20 bilhões entre janeiro e agosto deste ano. A Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), que acompanha o cenário e trabalha para conscientizar a população, afirma que os dados são preocupantes, “não apenas pelo volume financeiro movimentado, mas principalmente pelos prejuízos que podem causar para a saúde financeira e emocional de uma família”. “Temos claramente um problema de psicologia comportamental agravado pelo baixo nível de conscientização e capacidade da população em estabelecimento de metas, prioridades e planejamento financeiro”, aponta.

O estudo “Epidemia de bets no Brasil” do Observatório Nacional da Indústria aponta para mais de 103 milhões de brasileiros conhecendo alguém viciado em apostas, 19 milhões de apostadores admitindo usar dinheiro destinado a despesas essenciais e 23 milhões relatando prejuízos financeiros. Um levantamento do instituto Locomotiva aponta que 6 a cada 10 brasileiros que fazem apostas esportivas reconhecem que a prática afeta seu estado emocional. 

E por que as apostas fascinam tanto as pessoas? A resposta para essa pergunta seria a existência de uma busca pelo ganho fácil e rápido. “A solução está na educação financeira das famílias, não apenas do jovem, afinal o impacto do jogo afeta todos, não apenas o indivíduo”, destaca a Fenaprevi. “Dados de letramento financeiro da OCDE revelam o qual defasado é a situação da população brasileira. Em um ordenamento de 39 países, o Brasil ficou na 20ª posição. É necessária a conscientização de que a previdência é um compromisso com o seu futuro e o da sua família”, acrescenta. 

Para a Fenaprevi, o desafio deve ser enfrentado em conjunto, tendo governo, iniciativa privada e a própria sociedade envolvidas no processo. A entidade lista, entre ações em andamento para conscientização da população, o Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef) e a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), que tem como objetivo promover a educação financeira e previdenciária, aumentar a capacidade do cidadão realizar escolhas conscientes sobre a administração dos seus recursos.

“É necessária a conscientização que a previdência é um compromisso com o seu futuro e o da sua família. Somente com esse entendimento será possível romper com um ciclo vicioso e entrar em uma trajetória virtuosa. Envolve uma mudança de hábito, o que nunca é fácil”, conclui.

O governo anunciou a criação de um grupo de trabalho para, em 60 dias, elaborar ações de enfrentamento aos danos causados pelas apostas online à saúde da população. A medida faz parte da regulamentação das apostas no Brasil e aborda questões de saúde mental e prevenção do “jogo problemático”. A equipe será composta por representantes dos ministérios do Esporte, Fazenda, Saúde e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

Fonte: CQCS