Mercado quer escrever novos capítulos de seu relacionamento com as favelas

O mercado segurador está pronto para escrever novos capítulos de seu relacionamento com as favelas brasileiras, ao acenar com produtos sob medida para suas necessidades, regulamentos mais flexíveis e contratação de seus moradores para ficar na linha de frente das vendas.

Em síntese, esse foi o recado dado pelos representantes do setor que participaram do painel “Seguro; uma alavanca para a inclusão e emprego nas favelas”, um dos debates promovidos pelo G20 Favelas entre quinta e sábado, integrando uma das mais de 200 atividades do G20 Social, encerrado no dia 17 de novembro. O compromisso do mercado, de algum modo, confirma a premissa de que “favela não é carência, favela é potência”, mantra repetido à exaustão nos intervalos das discussões do G20 Favelas, para desconstruir a imagem de miséria, criminalidade e carência nesses territórios.

As favelas brasileiras contam com mais de 16 milhões de moradores e 958.251 estabelecimentos, como oficinas mecânicas, bancos, farmácias, escritórios, lojas e comércio em geral etc. e 29,1% de edificações em construção ou em reforma, segundo o censo 2022 das favelas, divulgado há dias pelo IBGE.

Em sua participação no painel realizado na quinta-feira (14/11), a executiva Glauce Carvalhal, diretora jurídica da CNseg, assinalou que a criação de produtos de seguro adequados à realidade das comunidades é um passo fundamental para ampliar a incursão dos seguros nas favelas. Isso significa compreender as necessidades específicas desse público, entendendo sua “linha de vida” e os bens que precisam ser protegidos.

Outra premissa: ser didático, com explicações sobre coberturas, riscos excluídos, canais de atendimento e informações sobre a regulação de sinistros. Ela acrescentou que não basta desenvolver um produto “interessante” sem considerar a demanda e a capacidade de pagamento dos moradores. O preço, portanto, deve ser acessível e o negócio, economicamente sustentável.

Outro ponto crucial, segundo a diretora, é a distribuição dos produtos. Ela demonstrou otimismo com a proposta, apresentada no painel, de que os próprios moradores das favelas atuem como distribuidores, por conhecerem profundamente a realidade local e as necessidades da comunidade, o que os tornaria um “vetor” entre seguradoras e consumidores.

Aliás, a nova seguradora à frente desse empreendimento quer, no prazo de cinco anos, contar com 120 mil colaboradores residentes em favelas/comunidades na distribuição e colocar 10 milhões de famílias protegidas pelos seus seguros.

Carvalhal afirmou ainda que o mercado segurador está preparado e “pronto” para atender às favelas, tendo já dado os primeiros passos nessa direção. Como exemplo, as ações para a ampliação dos seguros inclusivos, presentes no documento da CNseg para democratizar o acesso aos produtos de proteção, o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PDMS).

Para ela, os números positivos de arrecadação dos seguros inclusivos- são produtos com tíquetes médios reduzidos- já demonstram a disposição do mercado de elevar o nível de proteção das comunidades. Só no primeiro semestre de 2024, a receita foi de R$ 813,5 milhões, alta de 94,3% na comparação com o mesmo período de 2023. “Esse salto já é um indicativo claro de nosso compromisso para expandir o acesso do seguro, especialmente para a população de baixa renda e pequenos negócios”, assinalou ela.

Nesses produtos estão incorporados algumas das principais coberturas de Danos e Responsabilidades e de garantias de Pessoas. Ela acredita que a contratação de seguros se tornará uma prática tão natural nas comunidades quanto o consumo de qualquer outro produto. A diretora finalizou sua fala confiante de que essa inclusão financeira trará benefícios para moradores e para o setor de seguros como um todo. Além de Glauce Carvalhal, o painel do G20 Favelas dedicado a discutir a participação do seguro na proteção das comunidades contou com a participação de Airton Almeida Filho, diretor da Susep, Helder Molina (CEO do grupo MAG), Patrícia Campos (diretora da MAG), e foi mediado por Elaine Caccavo, vice-presidente da Central Única das Favelas (CUFA).

Fonte: Sou Segura – Associação das Mulheres do Mercado de Seguros