Com a crescente demanda por motos, as seguradoras estão ampliando as ofertas para atender o mercado

O Rio de Janeiro não é para amadores. No primeiro trimestre de 2024, o Estado registrou um aumento expressivo nos roubos de motos, com 1.747 casos, 76,1% a mais que no mesmo período de 2023, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Em relação a furtos, os registros passaram de 1.770 para 1.802, na mesma comparação. Juntando as duas ocorrências, há em média 39 motos levadas por assaltantes todos os dias. Esse cenário de insegurança levanta um questionamento crucial: vale a pena investir em seguro de motocicleta?

Para o comunicador Victor Hugo Liporage, de 26 anos, é crucial ter um serviço de assistência para moto. “Não dá para rodar no Rio sem seguro, porque aqui é muito perigoso”, comenta. Em julho, ele trafegava na Linha Vermelha, na altura de Duque de Caxias, quando foi vítima de assalto à mão armada. Liporage conta que o motorista de um dos carros que passavam pelo lugar naquele momento avisou à polícia, detalhando o modelo e a cor do veículo.

Em seguida, os policiais procuraram e recuperaram a moto. No entanto, ela foi entregue com um tiro e não estava funcionando. “Tecnicamente eu poderia acionar o seguro, mas a perícia obrigatória levaria muito tempo e eu preciso da moto no dia a dia”, diz. Liporage explica que preferiu arcar com os custos para não ter o prejuízo de ficar sem o seu meio de locomoção. “Só acionaria o seguro se não tivesse sido encontrada. Nesse caso, acho que valeria a pena”, avalia.

Para Gabriel Dalzini, de 22 anos, a situação é diferente. O universitário comenta que se sente seguro em Petrópolis, na Região Serrana. “Eu moro em uma cidade tranquila, então nunca tive a necessidade de adquirir o seguro”, explica. Ele diz que apenas coloca uma trava disco na moto para impedir um possível furto.

“O custo de um seguro é alto, diante do pouco risco que percebo onde moro. Se eu vivesse no Rio, com certeza teria um”, afirma Dalzini.

O que é o seguro de moto?

O presidente do Sindicato de Corretores de Seguros do Rio de Janeiro (Sincor-RJ), Ricardo Garrido, explica que o seguro para moto é similar aos dos demais veículos. Dentro desse serviço, o consumidor tem direito à garantia em situações de roubos, colisões, acidentes pessoais, danos a terceiros e de assistências 24 horas.

“Quem tem uma moto deve se preocupar muito com acidentes pessoais e com a cobertura contra terceiros”, alerta Garrido.

O mercado de motocicletas no Brasil vive um momento de forte expansão. Os dados mais recentes da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) mostram que a produção de motos no Polo Industrial de Manaus ultrapassou um milhão de unidades em 2024, registrando aumento de 14,4% em relação ao mesmo período do ano anterior — o melhor desempenho desde 2012.

Com a crescente demanda por motocicletas, diversos ramos têm se adaptado para oferecer produtos e serviços mais sofisticados. As seguradoras, por exemplo, ampliaram a oferta para atender ao mercado.

André Costa, CEO da Touareg Seguros, destaca a importância de compreender os detalhes das coberturas disponíveis em um seguro para evitar surpresas desagradáveis. Segundo o especialista, é essencial que os motociclistas saibam que alguns seguros básicos podem excluir danos por vandalismo, incêndio intencional, danos da natureza e outros tipos de violência urbana.

Garrido esclarece que eventos como vandalismo e enchentes, por exemplo, não estão incluídos nas coberturas mais comuns, pois são considerados problemas relacionados à segurança pública e, portanto, de responsabilidade governamental. Porém, ele destaca que existem planos de “cobertura compreensiva”, que oferecem uma proteção mais ampla e incluem esses tipos de ocorrências.

Costa também alerta para a diferença entre seguro e proteção veicular, oferecida por associações e sem regulamentação da Superintendência de Seguros Privados (Susep). “O seguro tradicional oferece mais respaldo jurídico e financeiro, enquanto a proteção veicular é baseada no rateio de custos entre associados, o que pode comprometer o reembolso em situações mais complexas”, explica.

A proteção veicular, oferecida por cooperativas e associações sem fins lucrativos, não é regulamentada por órgãos governamentais. Nesse modelo, os contratantes compartilham os riscos, contribuindo mensalmente para um fundo coletivo. Em caso de sinistro, os reparos são financiados por esse fundo, formado pelas mensalidades e pela administração da cooperativa.

O CEO da Touareg Seguros enfatiza a importância de verificar a rede de assistência da seguradora. “Ter um suporte de qualidade e oficinas credenciadas confiáveis é essencial em situações de sinistro.”

O que é o sinistro?

Para as seguradoras, sinistro é o evento inesperado ou acidental que aciona a cobertura contratada na apólice. É, em essência, a materialização do risco contra o qual o segurado buscou proteção. Ele pode ser roubo, furto, acidente ou qualquer outra ocorrência prevista no contrato.

Garrido informa que o motociclista deve fazer uma declaração de sinistro contando como ocorreu o fato e anexar o documento do bem, a habilitação e os documentos do segurado. Depois, a seguradora verifica se o evento está coberto pela apólice e avalia a documentação e os detalhes fornecidos. Se o sinistro for aceito, a empresa paga a indenização, que pode cobrir reparos, substituição ou reembolso, conforme o tipo de cobertura.

Ele esclarece que o valor da indenização é regulado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Essa referência é utilizada para determinar o valor médio de veículos, sendo atualizada mensalmente, a chamada Tabela Fipe. Além disso, serve como base para negociações de compra, venda e seguros.

Por lei, a seguradora tem até 30 dias para fazer a indenização, a partir do momento que ela recebe toda a documentação do cliente. “Hoje o mercado de seguros está praticando indenizações muito mais rápido. Existem indenizações que saem de cinco a sete dias”, conclui Garrido.

Qual seguro contratar?

A escolha do tipo de cobertura é crucial para determinar a real utilidade do seguro para sua moto. Por isso, essa decisão deve ser feita com atenção. Existem diversos tipos de seguro de motos, cada um projetado para atender a diferentes necessidades e orçamentos.

O seguro compreensivo ou total oferece proteção ampla para o veículo, cobrindo diferentes tipos de danos causados por eventos especificados na apólice. Geralmente, as melhores opções de seguros compreensivos incluem cobertura para colisões, incêndios, roubos e furtos, além de situações como alagamentos, quedas de raios e outros imprevistos.

Esse tipo de seguro também costuma oferecer benefícios adicionais, como assistência em estradas e rodovias, garantindo suporte sempre que necessário. Entre os serviços frequentemente incluídos estão desde a troca de pneus até auxílio com guincho, proporcionando mais segurança e tranquilidade ao motorista.

Para a publicitária Larissa Carmelita, de 27 anos, as coberturas indispensáveis incluem proteção contra roubo e furto, cobertura de danos causados por acidentes, tanto para a moto quanto para terceiros, além de assistência 24 horas, com serviços como reboque e socorro mecânico.

“A minha moto é um sonho realizado, e eu não gostaria que acontecesse algo que não pudesse recorrer, como por exemplo um imprevisto no trânsito ou até um furto”, comenta Carmelita. “Logo quando eu comprei a moto, falei assim: ‘Meu Deus, eu preciso de um seguro’, antes mesmo de tirá-la da concessionária”, conta.

Já o não-compreensivo, popularmente chamado de “seguro incompleto”, não deve ser interpretado como uma opção inferior ou menos vantajosa em comparação ao compreensivo. Ele oferece maior flexibilidade, permitindo ao motorista escolher as coberturas que melhor atendem às necessidades específicas e se ajustam ao orçamento.

Com esse tipo, é possível selecionar as proteções, sendo uma alternativa personalizável. Contudo, é importante destacar que o seguro não-compreensivo cobre apenas até 75% dos danos totais.

O seguro mais procurado é o contra roubo e furto. Ele protege o bem quando os serviços de segurança pública não conseguem encontrá-lo. Esse tipo de garantia evita que o segurado saia no prejuízo, se o veículo for levado por uma ação criminosa.

Liporage afirma que busca o seguro mais barato possível, destacando que, para ele, o essencial é a garantia contra roubo e furto. “Confesso que nem presto tanta atenção em detalhes como cobertura para acidentes ou vandalismo, porque acho que são casos muito específicos e isolados. Para mim, o mais relevante é ter proteção contra roubo ou furto.”

Embora esse tipo de seguro ofereça vantagens, como suporte em estradas, troca de pneus e auxílio com guincho, é fundamental analisar cuidadosamente a documentação da apólice.

Por último, o seguro de perda total é uma modalidade de cobertura acionada quando o veículo sofre danos tão extensos que o tornam inutilizável ou quando o custo dos reparos supera o valor da moto. Nessas situações, é garantido ao segurado o reembolso correspondente ao valor estipulado pela Tabela Fipe, conforme estabelecido na apólice.

Além de cobrir danos resultantes de colisões graves, esse seguro protege contra eventos como incêndios ou danos causados por raios, conforme previsto pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). É uma opção essencial para quem busca proteção em casos extremos, oferecendo segurança financeira em situações imprevisíveis.

Fonte: Portal O Dia