Na Conferência do Clima, em Baku, no Arzebaijão, entidades internacionais como a UNEP FI, a iniciativa financeira do programa das Nações Unidas para o meio ambiente, e o Instituto Clima e Sociedade (ICS) disseram que os produtos do mercado segurador são instrumentos fundamentais no processo de mitigação e adaptação aos riscos do clima como os seguros rural, para infraestrutura e os inclusivos.

 

As duas entidades participaram do painel “O Papel do Setor de Seguros na Transição Climática – De Baku a Belém”, promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), e que recebeu também a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o deputado federal Arnaldo Jardim.

 

Butch Bacani, head de Seguros da UNEP FI, disse em sua apresentação que não há indústria melhor no mundo que consiga acelerar e ajudar neste processo de transição climática que as seguradoras. É possível, segundo ele, canalizar parte dos recursos para investimentos na transformação da economia para baixo carbono.

 

Maria Netto, CEO do Instituto Clima e Sociedade, alertou para a frequência e severidade dos fenômenos climáticos com impactos cada vez mais negativos para as economias no mundo todo. Ela, inclusive, levantou preocupações sobre a elevação de um risco sistêmico do setor financeiro e segurador devido à falta de ferramentas disponíveis e capazes de considerar os novos cenários levando em conta as mudanças do clima.

 

“Sistemicamente se não começarmos a considerar os novos cenários, há um risco de falha no sistema. A segunda coisa é a falta de ferramentas que conversem com seguros e o setor financeiro. No ICS, temos ferramenta sofisticada sobre vulnerabilidade com algumas projeções, mas muitas falhas. É uma ferramenta de governo que não foi feita para isso”

 

A executiva defende que os tomadores de decisão local como governo e investidores encontrem uma ferramenta útil e comum a todos para avaliar e precificar igual o risco dado a nova realidade.

 

“Ano passado foram contabilizados US$ 280 bilhões de perda com desastres naturais no mundo, 40% estavam segurados. Isso significa uma perda enorme que não foi planejada e a probabilidade é que isso continue crescendo exponencialmente a partir de um certo momento se não estabilizar o efeito do gás estufa e a temperatura da terra”, ressaltou Maria Netto. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, que conduzia o painel, acrescentou que o setor segurador tem capacidade de fazer muito mais se instrumentalizado.

 

CNseg e ICS também falaram sobre o potencial do Adapta Brasil, uma plataforma do Ministério de Ciência e a Tecnologia que integra dados de riscos e de vulnerabilidades climáticas. É de interesse comum que o Adapta seja aperfeiçoado, com aplicações customizadas para o setor segurador.

 

O deputado federal Arnaldo Jardim disse, durante o painel em Baku, que não há como falar em financiamento da transição climática sem pensar conjugado com o setor segurador e chamou a atenção para o exemplo da infraestrutura brasileira que hoje, segundo a legislação atual, todo o compartilhamento de risco seja de demanda ou da operação fica para o concessionário.

 

Jardim disse que em fevereiro apresentará um projeto que vai alterar a lei das concessões que vai incluir o princípio do compartilhamento de risco, ou seja, os riscos climáticos e de demanda serão estabelecidos de forma mais solidária entre os partícipes da obra para dar garantia de continuidade.

 

Butch Bacani defendeu a participação do setor segurador nas concessões e projetos desde o dia zero para mitigar e compartilhar os riscos. “Infraestrutura deve ser prioridade número um e o seguro deveria ser envolvido na construção do projeto para garantir infraestrutura adequada as novas necessidades de resiliência climática, garantindo assim maior sucesso e redução de risco”, completou.

 

Seguros para o agronegócio

 

Além dos seguros para infraestrutura, os painelistas alertaram para o impacto das mudanças climáticas na agricultura brasileira. Atualmente, cerca de 7% da área cultivada no País tem seguro rural, alertou o deputado Arnaldo Jardim, que é vice-presidente da Frente Parlamentar da Agricultura. Hoje, disse, o sistema de informação, de meteorologia é insuficiente para estabelecer parâmetros necessários para o produtor rural e por isso, tem defendido cada vez mais o seguro paramétrico.

 

Davi Bomtempo, diretor de Sustentabilidade da CNI, reiterou o compromisso da indústria com a agenda de descarbonização e destacou o papel do seguro na mitigação dos riscos climáticos que comprometem diversas atividades econômicas do País. “Existe um amplo mercado que precisa avançar em termos de seguros e falamos em várias agendas de certificação. Talvez o seguro seja forma complementar dessa certificação que passa a ser mais robusta”.

 

O executivo da CNI acrescentou que o setor produtivo brasileiro trabalha com comando, controle e fiscalização para o baixo carbono e a gestão de risco conecta com agenda de adaptação climática mais positiva e que conecta com infraestrutura resiliente que vem crescendo nas COPs.

 

Seguros Inclusivos

 

Butch Bacani acrescentou que, além da infraestrutura, os seguros inclusivos devem ser prioridade para o Brasil. Dyogo então aproveitou para ressaltar a importância do Seguro Social de Catástrofe, um seguro inclusivo apresentado pela CNseg a deputados e ao Executivo.

 

“Estamos defendendo o seguro social de catástrofe com indenização de R$15 mil para as pessoas afetadas por enchentes”. O executivo da CNseg acrescentou também que recentemente foram lançadas as primeiras apólices de seguros de reflorestamento, em parceria com órgãos florestais brasileiros para parcerias público-privadas de restauro”.

 

Fonte: Sonho Seguro