O incêndio de grandes proporções que atingiu o Shopping Popular na madrugada de terça-feira, dia 15 de julho, em Cuiabá (MT), tem gerado debates acerca das coberturas adequadas para eventos de grande magnitude e a aceitação de riscos por parte das seguradoras. De acordo com o presidente da Associação dos Camelôs do centro comercial, Misael Galvão, nenhuma empresa aceitou firmar acordo para assegurar a estrutura das mais de 600 lojas instaladas no local. Para especialistas, por vezes, a estrutura de shoppings populares afeta a aceitação, e o caso traz lição para corretores.

Nelson Fontana, corretor de seguros e advogado, aponta que shoppings populares e supermercados são “riscos” sujeitos à frequência e severidade. No caso do incêndio no Shopping Popular, segundo a Polícia Civil, suspeita-se que o fogo pode ter começado por meio de uma falha no sistema elétrico do prédio. De acordo com o especialista em seguros, instalações elétricas de centros comerciais podem ficar sobrecarregados devido ao grande número de comerciantes instalados, demandando, por vezes, instalações improvisadas para atender balcões frigoríficos, equipamentos elétricos, fornos e ventiladores, o que requisita mais energia do que o previsto no projeto original.

“Além disso, é impossível ou, pelo menos, muito difícil controlar a quantidade de mercadorias combustíveis e inflamáveis nas lojas de cada comerciante, o que cria uma situação de fácil propagação de um foco inicial e consequente agravamento das perdas”, detalha Fontana. Segundo o especialista, nem todas seguradoras “veem com bons olhos” esse tipo de segurado, mas existem algumas especializadas. “A recomendação é que o shopping popular tenha bons sistemas de segurança, como hidrantes, extintores, sprinklers, equipe rigorosa de manutenção e controle da “carga incêndio” de cada comerciante”, finaliza.

Segundo informações do portal VGN divulgadas pelo CQCS, o presidente da Associação dos Camelôs do Shopping Popular disse não pensar apenas nas paredes, mas também nas pessoas envolvidas com o funcionamento do centro comercial. “Tem documentação para tudo, tem alvará para tudo, acabou de fazer as últimas vistorias”, afirmou Galvão. Em video divulgado nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de Carlos Fávaro, Ministro da Agricultura e Pecuária, anunciou que a União vai ajudar na reconstrução do local.

Thais Coutinho, sócia-fundadora da Seg Fácil Seguros, explica que, muitas vezes, locais chamados de shopping possuem um sistema interno de galerias (no caso do Shopping Popular de Cuiabá, cada loja ficava em um box numerado, conforme apresentado no site oficial). De acordo com a executiva, quando um shopping não oferece uma estrutura que diferencia efetivamente os estabelecimentos, como paredes sólidas, mesmo que de drywall , há comprometimento da segurança.

A estrutura interna provavelmente não oferecia a segurança necessária para que as seguradoras aceitassem o risco, pontua Thais. Segundo ela, além do prédio, a empresa teria que pagar indenização aos lojistas e clientes em caso de acidentes, abrangendo reembolsos e realocação temporária das lojas. “A falta de segurança individualizada entre as lojas é um dos motivos pelos quais as seguradoras não aceitaram o risco”, explica.

Ainda de acordo com a executiva, um corretor poderia ter oferecido seguros adequados de forma individual para cada loja. “Não sabemos se isso foi feito, mas fica como exemplo para outras galerias que se chamam de shoppings”, comenta Thais. Para ela, ainda que a administração do centro comercial não aceite fazer um seguro abrangente, um profissional pode capturar clientes de forma individual, explicando a importância e responsabilidade de ter coberturas de incêndio, danos elétricos, Responsabilidade Civil e mais.

Fonte: CQCS