Mulheres são o público que mais cresce neste mercado de trabalho após a pandemia de covid-19. Mesmo assim, o salário delas ainda é menor em comparação ao dos homens

radicionalmente, o mercado de seguros sempre foi muito masculinizado, mas as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço nesse setor. A preocupação maior com o patrimônio tem feito elas entrarem nesse segmento, tanto no trabalho quanto no consumo, especialmente após a pandemia da covid-19, de acordo com especialistas do setor.

Seguradoras, atentas a essa tendência, buscam ofertar mais produtos específicos para as consumidoras — que são as mais preocupadas em buscar alguma proteção.

A corretora de seguros Eliane Araújo, 48 anos, moradora de Ceilândia Norte, está na carreira há 22 anos. Quando começou, apenas 30% da carteira de clientes era de mulheres, e, hoje em dia, esse percentual chega a 75%.

“No começo, havia bastante dificuldade, principalmente, a logística da seguradora e os processos manuais. Praticamente eu tinha que ir todos os dias na seguradora para tratar de uma situação e só depois ir para o local de trabalho”, conta.

“Não é apenas vender e, sim, gerar aos meus clientes tranquilidade e confiança na hora que mais precisam, quando vão fazer uso dos benefícios [acionar o seguro]”, completa.

Araújo trabalha em todos os segmentos, como automóvel, residencial, plano de saúde, odontológico, seguro de vida, previdência, consórcio e tem nas mulheres os melhores clientes. “Elas são mais compreensíveis e tranquilas”, frisa.

No dia a dia, a tecnologia é uma importante aliada da corretora. “O mercado segurador se modernizou muito, facilitando e agilizando a nossa comunicação com clientes, prestadores e seguradoras. Com o aprimoramento das novas tecnologias e a modernização, tudo é feito de forma digital”, destaca.

Mudança de perfil

A preocupação pela equidade de gênero também cresce entre as empresas de seguro. Uma das seguradoras mais tradicionais do mercado, o grupo Mapfre aderiu, em 2020, aos princípios da Organização das Nações Unidas (ONU) mulheres e assumiu o compromisso de, pelo menos, destinar 45% das vagas para pessoas do sexo feminino e, atualmente, 58,53% do total dos colaboradores são mulheres e entre os cargos de liderança da companhia, 41% são do sexo feminino.

Hilca Vaz, diretora de Vida e Previdência da Mapfre Seguros, há 30 anos no mercado, conta que tem visto muito mais mulheres nos congressos do setor do que há 15 anos. “Existe um grande número de mulheres em corretoras e executivas de seguradoras”, afirma.

Segundo ela, desde a pandemia, o comportamento das pessoas mudou e 65% do público que mais tem procurado seguro são mulheres. “Isso mostra uma mudança no comportamento nos últimos anos após a covid-19”, aponta.

Comparando com o mercado segurador no mundo, a executiva ressalta que o brasileiro ainda tem uma cultura baixa de seguro, pois menos de 20% da população do país está protegida com algum seguro. “Em países desenvolvidos, como o Japão, 90% [dos habitantes] possuem seguro e, nos Estados Unidos, 70% estão protegidos com alguma apólice”, afirma.

A média global dos segurados, lembra a executiva, é 32% e, no Brasil, 17% da população possui alguma proteção, e, desse percentual, praticamente a metade são benefícios de vida em grupo, ou seja, vinculados às empresas. “A procura por seguros no Brasil ainda é baixa, mas o que temos identificado é uma demanda maior por proteção, principalmente, de mulheres e jovens, que aumentou após a pandemia”, destaca.

De acordo com Hilca Vaz, a inclusão de produtos e serviços que possam ser utilizados em vida, como doenças graves, cobertura cirúrgica, estão tendo muita procura também.

Em novembro do ano passado, a Mapfre lançou a plataforma Ela, uma assistência adicional para quem contratar o seguro de vida multiflex da companhia. O programa atende tanto às mulheres quanto aos homens, que ao contratarem o seguro de vida, podem estender a proteção e indicar uma mulher para ter acesso aos novos benefícios.

Por meio da plataforma, as seguradas podem fazer consultas por vídeo agendadas com enfermeiras especialistas em saúde da mulher e pronto-atendimento on-line, 24 horas por dia, entre outros serviços. O programa representa uma plataforma de gestão da saúde das mulheres, focado no bem-estar delas.

“Queremos ser parceiros em todas as fases da vida das mulheres e, para isso, compreendemos que prevenção e autocuidado são temas que merecem atenção o ano inteiro”, afirma Vaz.

Apesar de ainda ser minoria entre os clientes da segurada, a executiva da Mapfre ressalta que o público feminino é muito mais atento à saúde preventiva e, atualmente, elas são responsáveis por 80% do consumo de saúde no Brasil.

E, de olho nesse segmento, a empresa lançou em novembro do ano passado uma plataforma de assistência diferenciada para o seguro de vida multiflex, que não tem custo adicional. “O Ela acompanha o ciclo de vida da mulher, inclui terapias, orientações e as mulheres conseguem ter uma assistência mais completa para a saúde mental e física”, explica.

Ela lembra que um dos maiores benefícios do seguro é fazer um planejamento futuro e conseguir se prevenir de uma ausência para os entes mais importantes da família. “Hoje, mais de 50% das casas são chefiadas por mulheres. E, muitas delas, não têm um companheiro e, portanto, elas são as responsáveis pela continuidade e proteção da família e, com um seguro, ela vai sair de casa mais tranquila para seguir o dia e fazer as suas atividades”, explica.

De acordo com a executiva, existem variáveis, como idade da pessoa, que pesam no preço do seguro. “A cobertura contratada também varia e é possível fazer seguros flexíveis e customizados. Por exemplo, uma pessoa de 35 anos pode pagar R$ 15 a R$ 20 por mês para ter uma cobertura de capital de R$ 100 mil”, destaca a diretora da Mapfre.

Desigualdade

Ana Paula de Almeida, diretora de Sustentabilidade e Relações de Consumo da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), diz que, nos últimos anos, as mulheres passaram a ser maioria entre os executivos do setor e, atualmente, representam 52,3% do total de funcionários, enquanto os homens representam 47,7%.

No entanto, ela aponta que a remuneração média ainda é menor do que a dos homens: em torno de 70%, conforme dados da 4ª edição do estudo Mulheres no Mercado de Seguros do Brasil publicado pela Escola de Negócios e Seguros (ENS)em julho de 2022.

De acordo com o estudo, ao longo dos anos, a maior presença feminina no setor de seguros tem situado no patamar de em torno de 55% do total de funcionários, contudo, ainda são minoria nos cargos de chefia.

Ela reconhece, porém, que os dados segregados por gênero entre as clientes do setor de seguros ainda não possuem uma base consolidada.

“Essa é uma preocupação nossa e vamos buscar fazer um levantamento mais segmentado para os próximos relatórios de sustentabilidade. E esse será mais um dos desafios para os negócios, porque a linguagem ainda é muito complicada para o público comum. Estamos nos esforçando para simplificar.”

A diretora da CNSeg ressalta ainda que o avanço das mulheres no setor é uma realidade e está relacionada com escolaridade, porque elas costumam ter maior nível de estudo do que os homens. “Ainda existem alguns dogmas que são colocados, mas as mulheres mostram que estão cada vez mais preparadas”, destaca.

Na Prudential do Brasil, subsidiária da Prudential Financial, uma das maiores empresas de serviços financeiros do mundo, as mulheres representam 40% da carteira de clientes e a maior parte delas tem entre 30 e 49 anos (66%), e vem registrando aumento na demanda dessa clientela.

A empresa conta com alguns produtos para o público feminino, como uma cobertura específica para as mulheres — a cobertura Doenças Graves Modular, que cobre até 25 doenças e procedimentos, incluindo câncer de mama.

O produto prevê 50% adicional ao capital segurado contratado para mulheres que tenham o diagnóstico da doença em estágio avançado.

“As mulheres estão mais preocupadas com a saúde e buscam por uma proteção financeira. Queremos apoiá-las nessa busca por uma vida saudável e longeva oferecendo um diversificado portfólio de produtos e assistências. Acompanhamos a transformação do consumidor e protegemos nossos clientes de imprevistos, permitindo que os segurados também usufruam os benefícios do seguro em vida”, afirma o diretor de Produtos da companhia, Dennys Rosini.

Fonte: Correio Braziliense