Executivos apontam 10 tendências para o corretor de seguros e todo o mercado neste ano
Carol Rodrigues
Alguns fatores continuarão a impulsionar o mercado de seguros em 2024. Há unanimidade de que a tecnologia e tudo o que ela traz como a transformação digital, inovação e a inteligência artificial vão dar um tom diferenciado não só ao trabalho do corretor como a todo o mercado de seguros.
“Todas essas tendências refletem as mudanças no comportamento do consumidor, avanços tecnológicos e desafios emergentes que estão moldando o setor de seguros. Os corretores precisam estar atentos a esses temas e se adaptar rapidamente para alcançar não só bons resultados em 2024, como nos próximos anos”, chama a atenção Karine Brandão, vice-presidente Comercial e Marketing da AXA.
Segundo ela, o canal de parcerias também promete ser um grande trunfo para que as seguradoras possam ampliar seu alcance de mercado. “A inovação nesse modelo, buscando players que vão além do tradicional balcão de varejo, permite que as seguradoras entrem em contato com clientes que não estão cobertos pelos seguros, oferecendo um primeiro contato com o produto. Outro fator que deve trazer uma perspectiva positiva neste segmento é a queda da taxa Selic”.
Já na saúde, Carmem Ribeiro, diretora de Mercado da Dr.Online, ressalta que a colaboração entre seguradoras de saúde, provedores de tecnologia e instituições de saúde está crescendo. “Essas parcerias podem levar ao desenvolvimento de novas soluções digitais de saúde e a uma melhor integração de serviços de saúde e seguros, proporcionando uma experiência mais coesa para os consumidores”, diz.
O mercado está mudando muito rápido a percepção das companhias de como vai ser o ano. Isso gera um desafio grande para o corretor poder fazer o seu planejamento. Portanto, confira a seguir 10 tendências para 2024.
1 | Tecnologia
Para Cícero Barreto, CMSO do Grupo Omint, a tecnologia e a inovação continuarão a moldar as operações do setor de seguros, com a implementação de inteligência artificial e a automação de processos, para aprimorar a eficiência operacional, impulsionar as vendas e oferecer uma experiência ainda mais personalizada aos corretores e clientes.
“A tecnologia e a inovação continuarão a moldar as operações do setor de seguros, com a implementação de inteligência artificial e a automação de processos, para aprimorar a eficiência operacional, impulsionar as vendas e oferecer uma experiência ainda mais personalizada aos corretores e clientes”, observa Barreto.
“Uma das palavras para os próximos anos do seguro é tecnologia. O relacionamento próximo ainda é extremamente importante, mas nosso mercado pode ganhar mais agilidade e crescer se usar a tecnologia como aliada. Uso de dados e inteligência artificial podem ajudar a prever riscos, tornar processos mais rápidos e até trabalhar com precificação dinâmica, por exemplo, trazendo benefícios para empresas, corretores e clientes. Esses dados também contribuem para entender os padrões de comportamento do consumidor, o que nos permite criar soluções cada vez mais personalizadas”, descreve Karine Brandão, vice-presidente Comercial e Marketing da AXA.
Para Regis Melo, coordenador de Relacionamento Comercial da Maxpar, 2024 será um ano para voltarmos a atenção para o modelo de negócios cada vez mais centrado no cliente.
“As atualizações tecnológicas nos seguros, como conectividade e eficiência do veículo e novos serviços de assistência voltados para carros elétricos, vão aprimorar sua jornada de experiência na utilização dos serviços”.
Segundo Melo, o corretor de seguros precisará acompanhar a evolução da inteligência artificial. “O objetivo é buscar diferencial competitivo e operacional na simplificação e revisão de processos, e na jornada de atendimento mais autônoma, com o objetivo de ofertar ainda mais soluções aderentes e personalizadas a cada perfil de cliente, contribuindo para renovação das apólices e geração de novas receitas”.
A IA é uma tendência agora, principalmente para quem vende seguros de pessoas, tanto para geração de campanha como para captação de clientes como mitigação de risco, conforme Charles Alves da Costa Jr., diretor-executivo da Oceânica. “O mercado ainda não é maduro para se ter um processo de inteligência artificial na venda. O casamento seguradora e corretor continuará existindo. O corretor é quem entende o cliente. Ele pode usar os algoritmos da AI dentro da sua corretora para poder massificar as suas vendas e dar atendimento de mais qualidade”, sugere.
Na área de saúde, ferramentas como telemedicina, aplicativos de monitoramento de saúde e plataformas de gerenciamento de dados de pacientes devem estar, em 2024, ainda mais integradas aos planos de saúde, proporcionando maior acessibilidade e conveniência para os pacientes, e otimizando os custos para os provedores de seguros.
Segundo ela, apoiados por tecnologias digitais, os programas de bem-estar e prevenção de doenças estão se tornando componente crucial dos planos de saúde. Isso inclui a promoção de estilos de vida saudáveis e o uso de dispositivos wearable para monitorar parâmetros de saúde em tempo real.
“Com o aumento do uso de dados de saúde digitais, questões de privacidade e conformidade regulatória tornam-se cada vez mais importantes. Em 2024, esperamos ver regulamentos mais robustos para proteger a privacidade dos dados dos pacientes, o que também influenciará como as seguradoras coletam e utilizam esses dados”, diz Carmem.
2 | Seguro Saúde
O saúde é um produto que continuará em alta. O corretor deve estar cada vez estar mais consultivo, atento à tendência de inflação médica em alta. “O corretor precisa dominar muito a consultoria no saúde para conduzir bem o cliente e fazer a retenção em sua carteira, bem como olhar com muita sabedoria e propriedade o mercado”, recomenda Marcelo Reina, CEO da Brazil Health.
Fraude e reembolso continuam sendo pontos de atenção também.
Na visão da sócia-diretora da Continental, Liza Maria Faveri Miranda de Sousa, no ramo de saúde a diminuição das margens e o aumento de custos médicos trará um inevitável aumento dos preços, que poderá afetar principalmente os pequenos e médios grupos.
Segundo Farias de Sousa, CEO da Allcare, o aumento da demanda do mercado corporativo por projetos de saúde suplementar deverá ser o grande impulsionador do setor este ano.
“Empresas de todos os portes estão entendendo cada vez mais que a saúde de seus colaboradores impacta diretamente na saúde dos negócios e buscam produtos que se adequem à suas necessidades específicas. Mais do que contratar planos, o que as companhias buscam é um parceiro que possa atuar na gestão integral da saúde dos colaboradores. Dessa forma, os players que estejam capacitados a entender essas necessidades e disponham de tecnologia e conhecimento para desenvolver soluções personalizadas para esse segmento, auxiliando as empresas na implantação da cultura de prevenção da saúde e nos cuidados com seus colaboradores, terão um campo fértil de trabalho”.
“Os seguros de saúde integral digital/ físico e mental também devem começar a sofrer algumas alterações. Com o aumento da telemedicina e inovações em saúde digital, essa categoria pode se adaptar para incluir cobertura para serviços virtuais. Corretores que entendem essas mudanças e oferecem produtos relevantes podem atender a uma demanda reprimida e crescente”, explica Karine.
A ascensão da telessaúde, que hoje já se consolida como uma alternativa viável para muitas empresas e operadoras, é ponto interessante, conforme Carmem. “Os corretores de seguros de saúde precisarão se adaptar para oferecer produtos que cubram serviços médicos digitais. Para os corretores, adaptar-se a essas tendências não é apenas uma questão de manter a competitividade, mas também uma oportunidade de oferecer serviços mais valiosos e relevantes aos seus clientes”.
3 | Seguro de Automóvel
“Na carteira de Automóvel estamos assistindo (até pelo bom resultado do ano passado), uma diminuição do prêmio médio e uma concentração do mercado em cinco seguradoras; e com outras duas lutando para entrar neste grupo. Esta disputa trará boas notícias para o consumidor final”, comenta Liza.
Segundo ela, a novidade na carteira de automóvel, é que veremos este ano um trabalho muito intenso e focado na parcela de 70% dos veículos não explorados, e não segurados pelas grandes companhias de varejo. “Hoje temos alguns players operando neste segmento, mas com a entrada das sandbox este trabalho se acelerará, proporcionando cobertura securitária as classes mais necessitadas”.
Ainda no seguro auto, o diretor da Oceânica aposta que apesar da difícil operacionalização, as companhias vão olhar mais o mercado do seguro mês a mês.
Conforme Karine Brandão, com o avanço da telemática e dispositivos conectados, os seguros baseados em uso (UBI), que calculam prêmios com base no comportamento do segurado, podem se tornar mais prevalentes. “Isso oferece oportunidades para os corretores oferecerem políticas mais personalizadas e competitivas”.
Ainda no seguro auto, Arthur Moraes, coordenador de Marketing e Comunicação da Delta Global, lembra que, com o aumento da produção brasileira e importações, os carros elétricos ganharão um destaque no mercado de seguros que ainda não tiveram. “Vemos o mercado se movimentando para atender a demanda, não só adequar as coberturas existentes para carros movidos a combustão. Mas é preciso mais, se diferenciar e desenvolver novos serviços e coberturas específicas para esses tipos de veículos”.
4 | Venda consultiva
“Os corretores estão cada vez mais profissionalizados e enxergando com clareza o seu papel tão importante que é ser o consultor do seu cliente, apoiando o segurado naquilo que ele necessitar em cada estágio de sua vida, e isso irá trazer com certeza um aumento no seguro de vida, residencial, PME de qualquer ramo, etc”, comenta a diretora da Continental.
“Os corretores de seguros que atuam no segmento de saúde têm um papel cada vez mais relevante nos negócios. Contudo, tanto as operadoras de planos de saúde, quanto os clientes beneficiários, estão valorizando o corretor que consegue entender as necessidades do atual cenário, atuando como um verdadeiro consultor”, ressalta o presidente da Allcare.
Para Farias, o profissional que consegue indicar produtos resolutivos, que sejam adequados ao perfil do cliente e, ao mesmo tempo, entendam a lógica do mercado e trabalhem comprometidos com os objetivos de negócio das operadoras.
O trabalho consultivo do corretor continuará sendo importante. “Ele precisa continuar se aprimorando, antenado às mudanças de mercado”, destaca Reina, ao lembrar que o corretor também deverá investir em cross-selling.
5 | Qualificação
Para Melo, a atualização de conhecimento é um fator primordial para 2024, por isso a Maxpar promove cursos gratuitos para esse público por meio de parceria estratégica com a Escola Nacional de Seguros (ENS), sobre tendências de mercado em soluções que não atingiram a franquia de casco e as que protegem roda, pneu e suspensão em virtude das precárias condições das rodovias brasileiras.
“Oferecer apenas uma rede credenciada, muitos hospitais e pronto atendimento, preços promocionais, entre outros tantos apelos comerciais, não faz mais diferença para as duas partes interessadas: quem adquire e quem fornece. A valorização dos profissionais corretores passará necessariamente pela certificação técnica e conhecimento amplo do setor de saúde, atributos que serão cada vez mais exigidos dos corretores”, pontua o CEO da Allcare.
6 | Seguro de vida
Karine Brandão aposta que o seguro de vida seguirá com um enorme espaço para crescer no País. “O setor como um todo tem trabalhado para ampliar a cultura do seguro e esse é um dos produtos que tem potencial para se popularizar. Nosso seguro de vida foi reformulado há alguns anos e tem buscado se desenvolver para atender demandas que ajudem a materializar seu valor, como assistências que mostrem ao cliente no dia a dia a importância de contratar o produto”.
7 | Cibersegurança
O aumento das ameaças cibernéticas e a demanda por seguros cibernéticos também está em ascensão. “Corretores que se especializam nessa área e oferecem soluções abrangentes de proteção cibernética podem se destacar. Nesse tema, a AXA no Brasil está acompanhando o mercado de perto e anuncia neste começo de ano o seu novo seguro de riscos cibernéticos”, sugere Karine Brandão.
Olhar para o cliente também é se preocupar com a segurança de dados sensíveis e da estratégia das corretoras, e com a proteção de informações confidenciais. “Por isso o investimento em cibersegurança precisa estar no radar de quem trabalha com esse público”, destaca Regis Melo.
8 | Mudanças climáticas
“Outra expressão que devemos ouvir mais é riscos climáticos. Esse é um tema que vem movimentando o nosso segmento e, com a previsão de eventos extremos, vemos que algumas regiões do país, bem como segmentos da economia, estão mais suscetíveis, podendo impactar, inclusive, preços de alguns produtos”, destaca a VP da AXA.
Arthur Moraes também acredita que o clima é um ponto de atenção. “No ano passado tivemos desastres naturais que destruíram cidades e causaram a morte de muitos. Com isso, o mercado começou a olhar o seguro contra desastres naturais com outros olhos, porém falta mais atenção pra isso. Acredito que o corretor de seguros precise conhecer mais esse tipo de seguro para oferecer e fazer valer o propósito do seguro que é levar tranquilidade e segurança a vida das pessoas e seus bens”.
9 | ESG
A crescente conscientização sobre questões ambientais, sociais e de governança (ESG) também promete movimentar o segmento: os seguros sustentáveis e produtos relacionados ao meio ambiente vão ganhar destaque.
“Corretores que oferecem opções alinhadas com valores ESG do mercado podem atrair clientes preocupados com essas questões. Nas seguradoras, o tema precisa estar refletido não só em forma de produtos, mas também em políticas internas e externas de gestão. O tema vem crescendo dentro de um setor que já nasceu com essa premissa. Aqui na companhia, por exemplo, temos alguns assuntos que olhamos com atenção, como a equidade de gênero”, diz Karine Brandão.
“É preciso também fazer com que a discussão sobre ESG e sustentabilidade cheguem até o cliente final, mostrando como as ações podem ser aplicadas no seu dia a dia”.
10 | Personalização
Barreto reforça que, em um mundo globalizado, as tendências e coberturas de seguros se equalizam rapidamente. “Novos procedimentos e tratamentos surgem e/ou são atualizados constantemente, e as seguradoras, em geral, estão sempre evoluindo e ampliando suas coberturas e produtos para atender às demandas do mercado. O objetivo disso é claro: garantir cada vez mais recursos financeiros, por meio das indenizações pagas, que possam proporcionar acesso aos melhores serviços”.
Para Carmen, o uso de big data e IA vai permitir cada vez mais a personalização dos planos de seguro de saúde. “Analisando grandes volumes de dados, as seguradoras podem oferecer planos mais adaptados às necessidades individuais dos segurados”, prevê a diretora de Mercado da Dr.Online.
“Acredito que este ano a demanda por seguros personalizados e segmentados deva crescer ainda mais e a capacidade de oferecer produtos customizados será uma vantagem competitiva significativa. Com isso, os corretores precisarão se manter atualizados com as últimas tendências, regulamentações e produtos”, completa.
Fonte: Revista Cobertura