Com passos calmos, o presidente da Federação Nacional de Corretores de Seguros (Fenacor), Armando Vergilio, caminha entre áreas, setores e segmentos, sempre levando a bandeira dos Corretores de Seguros. A calma durante a nossa entrevista ao relembrar de forma rápida a trajetória e o propósito da Fenacor aos poucos revela o quão enérgico pode ser o seu discurso.
A Fenacor, que completou 55 no final de outubro, se viu diante da necessidade de resguardar o corretor de seguros diante do Projeto de Lei Complementar 29/2017, cujo objetivo é revisar as normas de seguros.
A calma ao caminhar contrasta com a indignação e a imponência de Armando no tocante a todas as ameaças sofridas na tentativa de eliminar esse que é o maior canal de distribuição de seguros do Brasil.
Como liderança ativa, ele e seu time observaram vários pontos que prejudicariam a classe. “Ao analisar textos do acordo do PL nós detectamos pontos que são prejudiciais aos corretores de seguros. Um exemplo é que quando se fala do contrato de seguro, pois constava que a seguradora teria de informar a comissão do corretor de seguros. Essa é uma discussão antiga e não constava do texto aprovado na Câmara. Qual é o interesse em prejudicar os distribuidores que têm feito com que o mercado se sustente? Questionamos tudo isso e estamos procurando o Ministério da Fazenda através do caminho natural, sem ferir suscetibilidades, sem suprimir quem quer que seja”.
No mesmo dia de nossa entrevista, ele se reuniu com o superintendente da Susep, Alessandro Octaviani. Dias depois, veio o comunicado de que a Fenacor e a Escola de Negócios e Seguros (ENS) haviam se reunido com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto, e o superintendente da Susep.
“As nossas sugestões foram compreendidas e acatadas pelo ministro, o secretário e o superintendente da Susep e, posteriormente, pelo senador Jader Barbalho, relator da matéria no Senado, que ajustou o texto de seu relatório final a essas propostas”. É nessa toada que a Fenacor segue a sua jornada.
“Somos um exército”
Primeiro veio a lei 4594/1964, que regula a profissão de corretor de seguros, depois o decreto-lei de 1966 que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados. Nesse contexto, em 1968 nascia a Fenacor com uma importante missão. “Preparar a força de vendas de distribuição de todos os estados em um país de tantas diversidades”, observa.
“Temos cumprido essa missão através dos sindicatos estaduais. A Fenacor se esforça para levar treinamento e capacitação aos corretores. Para isso, temos um apoio fundamental da Escola de Negócios e Seguros”, completa.
A Fenacor transformou os sindicatos em provedores de solução para os corretores. Segundo ele, a principal missão da federação, além de representar econômica e juridicamente os corretores, é a preparação dos profissionais. “O cliente está a cada dia mais exigente e mais informado. O maior desafio hoje é poder levar e prover soluções ao corretor de seguros no contexto de uma sociedade em rápidas mutações. É continuar organizando melhor a categoria, que evoluiu muito nos últimos anos. A profissão de corretor é como a de médico, não pode parar nunca de se informar, se qualificar e se atualizar”.
Hoje são 124 mil corretores de seguros, 52 mil empresas ativas, 71 mil corretores pessoas físicas.
“Somo um exército de 260 mil pessoas altamente qualificadas”, comenta Vergilio, ao destacar os corretores pessoas física e os profissionais que operam com eles,
“É isso que confere capilaridade para o mercado de seguros brasileiro. Não é a toa que a distribuição de 90% de todo o mercado de seguros é através do corretor de seguros. É ele quem agrega mais valor e é mais eficiente. Primeiro ele faz um trabalho consultivo que antecede a contratação, contrata, faz o acompanhamento, as alterações necessárias para que o risco esteja permanente e adequadamente bem segurado, além de atuar sensacionalmente na ocorrência dos sinistros. E detalhe recebe apenas uma vez por isso”, explana.
Jovem e renovada
“A Fenacor chega aos 55 anos muito jovem e renovada para continuar cumprindo com a sua missão de liderar a maior e melhor força de vendas do setor de seguros brasileiro”, destaca o presidente.
Muitos são os marcos da trajetória da Fenacor. Mas uma conquista citada por Armando Vergilio foi fundamental para que se tenha hoje o grande número de empresas corretoras, que foi a inclusão no Super Simples, do Simples Nacional.
Outro ponto ressaltado por ele foi a MP 905/2019, que impactava a classe “Até hoje não entendemos a tentativa tão forte de acabar com os corretores de seguros. O Brasil é um dos países com o melhor sistema de distribuição de seguros no mundo. Não sei por que tentam acabar e sufocar esse sistema. A MP 905 dizimou a nossa profissão, revogou a nossa lei, nos tirou do Sistema Nacional de Seguros Privados por alguns dias”, lembra.
Nesse contexto, ele destaca o trabalho do então deputado Lucas Vergílio, entusiasta do setor no Parlamento e presidente da ENS. Inclusive, Vergilio lamenta a falta de representatividade do setor no Parlamento.
“Ter um integrante que conhece o setor fazendo esse trabalho internamente, conversando com os pares é fundamental. Foi através do trabalho do Lucas que nós, como setor de seguros, tivemos muitas vitórias. Hoje, com certeza, as coisas são bem mais difíceis por não termos um representante legítimo do setor fazendo essa interlocução com o Parlamento e o próprio Executivo. Precisamos mudar isso e entender que é necessário investir um pouco para que nas próximas eleições possamos ter vários representantes do setor de seguros fazendo esse papel imprescindível”, ressalta Armando.
“O setor tem os seus anseios e reivindicações e hoje não tem quem faça essa interlocução”, acrescenta.
Vergilio, que também trilhou carreira na política partidária, diz que seu afastamento é definitivo.
A pandemia causada pela covid-19 também foi um marco para os profissionais. “O corretor ficou na ponta passando informação, levando tranquilidade. A Fenacor liderou o processo para que fosse afastada a cláusula de exclusão de pandemia e praticamente todas as seguradoras abraçaram. Foram mais de R$ 10 bilhões pagos em indenizações, que não teriam cobertura. Isso fez uma diferença enorme para a sociedade brasileira”, destaca.
Diversificação da carteira
Para o setor avançar nos seguros de vida e planos de previdência privada, ele cita três pontos importantes. O primeiro é ouvir o corretor. “Temos uma camada da população brasileira que não tem acesso à proteção securitária e previdenciária porque os produtos não são acessíveis economicamente. Então temos que desenhar produto que vá ao encontro desta realidade e o corretor sabe fazer isso”.
O segundo ponto é ter um programa bem pensado e estruturado de aculturamento da sociedade. “Não é só de educação financeira, mas levar, de forma didática para a sociedade em geral, a importância da proteção securitária e melhorar a percepção deles sobre a necessidade da proteção”.
O terceiro ponto, e aqui ele faz um mea culpa da Fenacor, é que os profissionais precisam entrar nesse nichos para valer. “Temos de aproximar os corretores do Vida e da Previdência e continuarmos fazendo esse trabalho de catequização para que o corretor diversifique a sua atuação, pois ele precisa se converter em um grande provedor de solução de proteção securitária e financeira para o seu cliente”.
Fonte: CQCS