Alexandre Leal, diretor técnico e de estudos da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), fala sobre as oportunidades e os desafios trazidos pela transformação digital e pela possibilidade de integrar serviços financeiros a seus portfólios de forma cada vez mais simplificada

Um estudo do View Grand Research projetou que o mercado global para o setor de seguros deve ultrapassar os 158 bilhões de dólares até 2030. No Brasil, até essa data, o mercado de seguros quer ampliar seu alcance e quase dobrar sua participação no PIB, passando dos atuais 6,2% para 10%, além de aumentar em 20% a população atendida.

O movimento positivo já começa a ser observado. No primeiro trimestre de 2023, o setor acumulou 90,4 bilhões de reais em arrecadação, com uma alta de 10,2% sobre o mesmo período de 2022; e, em junho, motivada pelo crescimento do PIB e pela expectativa de baixa na taxa Selic – o que aconteceu no mês de agosto -, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) estima uma expansão de 11,1% do mercado em 2023.

“Não podemos negar que a participação do seguro no PIB brasileiro é baixa. E há motivos para isso, sendo que nem todos se referem a questões estruturais do nosso setor”, salienta Alexandre Leal, diretor técnico e de estudos da CNseg.

Ciente dos avanços necessários para atingir as ambiciosas metas, em março deste ano a confederação lançou um plano de desenvolvimento do mercado de seguros (PDMS), com 66 ações previstas baseadas em quatro eixos principais: o desenvolvimento da imagem do seguro; o desenvolvimento dos canais de distribuição (tradicionais e digitais); o lançamento de novos produtos e ampliação da divulgação dos atuais; e uma regulação mais eficiente.

Leal aponta a evolução dos meios de pagamento e o surgimento do Pix como um dos aspectos positivos na superação de desafios como a redução dos custos para a população de mais baixa renda. No cenário cross industry, porém, o desafio do desenvolvimento dos canais de distribuição também pode ser bastante beneficiado.

Se a integração com outros setores para ampliar as ofertas já é uma realidade, com especial força no varejo e no setor financeiro, a expectativa da confederação é que a colocação dos produtos de seguros para clientes que têm algum tipo de relacionamento com outro segmento econômico aumente cada vez mais.

Por esse motivo, uma das ações previstas pela CNSeg visa justamente promover a aproximação dos setores. “Há um esforço institucional da confederação de se aproximar de outras associações. O primeiro passo é sensibilizar essas empresas sobre a necessidade e benefícios dessa aproximação. Depois, eventualmente, ela mesmo começa a ver oportunidades de levar isso ao cliente”, destaca o diretor.

“A fintechzação do setor de seguros no sentido de criar seus próprios braços financeiros não é uma tendência a curto prazo. Antes, existe um movimento maior, e contrário, no qual instituições financeiras montam seus próprios braços de seguros.”

O movimento chamado de “seguros integrados” é derivado do termo “embedded insurance” e, assim como o “embedded finance”, também está relacionado com a agregação de valor para o consumidor na jornada de outros segmentos. “Isso passa, é claro, pelo avanço da tecnologia e pelo aumento da digitalização, que ganhou notadamente impulso com a pandemia”, lembra Leal.

Ele reforça, no entanto, que, diferentemente do que é observado no cenário do banking, a tendência está cada vez mais fortalecida nas parcerias, em detrimento de iniciativas voltadas para o desenvolvimento de novos “braços financeiros”. “São soluções não necessariamente voltadas à criação de uma nova seguradora, mas que buscam aumentar o valor do seu produto ou do seu serviço por meio dessa oferta”, reforça. “O fato de os outros setores já terem uma comunidade formada é de fato um incentivo, mas existe a questão do custo regulatório e de capital envolvida quando falamos em criar braços segmentados. É um movimento que requer uma análise rigorosa. Eventualmente, podemos observar distribuidores que decidam investir e criar seus braços segmentados. Mas, o formato de parcerias ainda é mais forte e presente”.

Em uma situação contrária, na qual o setor de seguros passa a agregar serviços financeiros a suas próprias bases, a percepção é, segundo Leal, muito semelhante. “O setor de seguros tem muito espaço para crescer. Ainda enfrentamos vários desafios e encontramos diversas oportunidades a serem trabalhadas, mas a fintechzação do setor de seguros no sentido de criar seus próprios braços financeiros não se apresenta como uma tendência a curto prazo para nós. Antes disso, existe um movimento maior, e contrário, no qual observamos muitas instituições financeiras montando seus próprios braços de seguros”, conclui.

 

Fonte: Cantarino Brasileiro