Passada a tempestade vêm os prejuízos, e um veículo atingido pelas águas e lama requer cuidados rápidos que podem não custar barato e ainda comprometer o valor de revenda
O período das chuvas é sempre um problema para quem tem carro, pois é necessário estar com a manutenção em dia e redobrar os cuidados na direção, pois trechos alagados, pistas escorregadias e pouca visibilidade são verdadeiras armadilhas a céu aberto. E com os grandes volumes de água derramados por São Pedro nas últimas semanas, muitos veículos sofreram as consequências das inundações, com danos nas partes mecânicas e elétricas e no acabamento interno. Conversamos com especialistas que alertam sobre a urgência de se fazerem os serviços de reparo para evitar a deterioração e desvalorização do seu automóvel. Para Vicente Guimarães, proprietário da oficina Alinha Rodas, no Bairro Barro Preto, em Belo Horizonte, antes de se falar nos prejuízos causados pelas fortes chuvas, é preciso ter atenção aos cuidados de manutenção com o carro para evitar possíveis infiltrações durante o período de chuva. Além dos cuidados básicos, como verificar o estado dos pneus e das palhetas dos limpadores de para-brisa, ele alerta para a necessidade de verificação da vedação das lanternas traseiras, borrachas de portas e tampão do assoalho do porta-malas, por onde normalmente entram poeira e água. “As lanternas precisam estar bem calafetadas, para evitar que a água da chuva entre no porta-malas. E as borrachas das portas e da tampa do porta-malas também devem estar em boas condições, bem coladas, pois elas são responsáveis por evitar que a água invada o interior do veículo”, lembra o comerciante. Portanto, borrachas ressecadas ou descoladas da carroceria são a porta de entrada das águas que vão gerar o prejuízo. As canaletas dos vidros das portas também devem ser verificadas, pois com o tempo elas cedem e abrem o caminho para a água passar.
ÁGUA NO JOELHO
Propusemos ao Vicente enumerar os problemas que podem ocorrer com o carro que transpõe áreas inundadas em três diferentes níveis. O primeiro deles, considerado menos grave, porém não menos perigoso, é trafegar por vias com volume de água na altura do meio da roda. Vicente afirma que, nessa situação, é preciso dirigir em velocidade mais baixa, com uma marcha forte engatada e aceleração constante para evitar que o movimento do carro forme ondas, que podem atingir a base das portas ou fazer com que o motor aspire a água suja da chuva, o que representa prejuízo grande. Depois de transpor esse trecho com água na altura do meio da roda, Vicente recomenda atenção redobrada com o sistema de freios, que tem a eficiência reduzida pelo fato de os discos, pastilhas e lonas estarem molhados. “Nesses casos, depois de sair da área alagada, o carro vai precisar de trafegar por uns 200 metros para que o sistema de freio volte a funcionar normalmente. Com os discos e pastilhas molhados, os freios perdem cerca de 50% de sua eficiência”, afirma Vicente. Para resolver o problema basta acelerar e pisar no freio, para retirar a água. Eseo sistema foi impregnado por lama, o ideal é lavar antes de prosseguir viagem. Aliás, o dono da Alinha Rodas lembra que a lama, comum nesses períodos de chuva em determinadas regiões do país, compromete a aderência dos pneus, mesmo estando esses em boas condições. A lama enche os sulcos dos pneus e impede o escoamento da água presente na pista de rolamento, deixando o carro mais vulnerável a acidentes. Vicente afirma ainda que até mesmo em áreas com inundação na altura de meia roda é possível que ocorra infiltração de água na transmissão, danificando principalmente a embreagem. E uma simples verificação do sistema pode gerar um custo de mão de obra de cerca de R$ 500.
NA LINHA DO CAPÔ
Já quando o motorista não consegue encontrar um lugar seguro para se proteger da chuva e se vê dentro de uma área alagada com o carro, com água na altura do capô, a tuação começa a ficar mais complicada. Vicente alerta que, nessa condição, com o motor funcionando, a água da chuva será aspirada pelo filtro de ar e coletor de admissão, causando o temido calço hidráulico, que pode empenar bielas e fazer com que o pistão fure o bloco. Ele afirma ainda que mesmo se o carro estiver com o motor desligado, a água entrará pelo escapamento, passando pela válvula de descarga e chegando até o motor, causando danos. Um lembrete importante: nunca ligue o motor do carro dentro de uma área inundada com água acima do capô. Espere a água abaixar para Tebocar o carro até uma oficina. De acordo com Vicente, se isso acontecer, será preciso abrir o motore fazer os devidos reparos, serviço que custa cerca de R$ 8 mil. Mas ele acrescenta que se for preciso trocar bloco do motor por um novo, o custo do serviço pode chegar a R$ 15 milou mai: dependendo do modelo do carro. E se a água entrou no motor, na oficina vão retirar todo o óleo e movimentá-lo manualmente por meio da polia, para verificar se algum componente interno foi empenado. As velas também precisam ser conferidas. Se o propulsor girar normalmente, é só colocar o óleo de volta e colocar para funcionar. Nessa revisão, o mecânico confere também a central eletrônica, que, apesar de ser blindada, pode permitir que entre umidade, causando curto-circuito. Se tiver que trocar a central, uma nova custa em torno de R$ 6 mil. Mas se não for O caso, o preço da revisão do motor que não sofreu danos internos será de cerca de R$ 600. Nessa mesma revisão, Vicente lembra que o mecânico verifica também o tanque de combustível, que pode ser invadido pela água da chuva pelo bocal da bomba, pela tampa de abastecimento ou até mesmo por mangueiras ressecadas. Constatada a contaminação do combustível pela água suja, é preciso esvaziar o tanque, lavá-lo e depois de colocá-lo de volta no lugar, reabastecê-lo. E seo carro foi invadido pela água, chegando até a altura do painel, os airbags também ficarão comprometidos. E de acordo com Vicente, o módulo da bolsa inflável não tem reparo. Se for atingido pela água, tem de ser substituído, e o custo é de cerca de R$ 2.500. Se o compartimento do airbag também foi atingido pela água, certamente sua eficiência ficará comprometida, tornando obrigatória a troca. O custo médio é de R$ 4 mil. Com a água tomando conta do interior do carro, a parte elétrica de uma maneira geral fica comprometida, principalmentea caixa de fusíveis, relés e al
COM ÁGUA NA ALTURA DO MEIO DAS RODAS OU BASE DAS PORTAS
Nessa situação, o ideal é dirigir em baixa velocidade, com marcha mais forte engatada, para evitar de fazer ondas, que podem levar água ao motor ou ao interior do carro pela base das portas. Depois de transpor o trecho alagado, Iembre- se de que será preciso trafegar cerca de 200 metros para secar discos e pastilhas do freio, para que volte a ter 100% de eficiência. Bi « niver
ÁGUA NA ALTURA DO CAPÔ
Água da área alagada pode entrar pelo filtro de ar, pelo coletor de admissão, causando calço hidráulico e danos ao motor, com prejuízo que pode variar de R$ 8 mil a R$15 mil. Se o carro estiver desligado, a água pode entrar também pelo escapamento e ir até o motor. E nessa condição, se as borrachas de vedação das portas e lanternas traseiras não estiverem boos, a água invadirá o interior do carro, comprometendo a parte elétrica, acabamento interno e bancos.
COM ÁGUA ATÉ O TETO
Nessa condição mais radical, as seguradoras normalmente costumam decretar a perda total do veículo, pois, dependendo da situação, os reparos podem custar muito caro, já que todos os componentes foram atingidos. Mas se o carro não tem seguro, o proprietário pode tentar salválo com a ajuda de empresas especializadas em limpeza, capotaria, elétrica e mecânica. Prepare o bolso, pois não vai ficar barato.
LIMPEZA PROFUNDA, CARRO RENOVADO
Uma das empresas especializadas e mais tradicionais em limpeza de interior de automóveis de Belo Horizonte é a Carpetel, que atualmente é gerenciada por Whelerson Delcio de Souza Ribeiro, consultor de empresas. Ele enumera alguns cuidados para evitar infiltração no carro em época de chuva e revela detalhes de como é feito o trabalho de limpeza depois que o carro é retirado de uma área inundada:
1=É necessário cuidar para que todos os drenos existentes (inclusive teto solar e ar- condicionado) sejam verificados com frequência e estejam completamente desobstruídos. Qualquer obstrução pode causar um acúmulo de líquido no assoalho do veículo, contaminando todo o carpete e o feltro que fazem o revestimento. Borrachas de vedação de portas, tampas e vidros também merecem a atenção dos proprietários, já que podem permitir a entrada de água em época de chuva ou até mesmo na hora de uma boa ducha.
2 – Uma vez que o pior aconteceu, ou seja, o carro foi envolvido em uma enchente, é importante que o proprietário tome uma atitude rápida no sentido de levá-lo a uma empresa especializada para que o tratamento seja iniciado imediotamente. Somente atentativa de aspiração do líquido no carpete, sem a desmontagem do mesmo, não resolve o problema. A parte de baixo fica no mínimo úmida e em curto período de tempo gerará odor característico de bolor/mofo. Uma dica: com a entrada de água, procure manter o carro aberto e o mais arejado possível isso prorrogará o surgimento de bolor/mofo.
3 – Após a entrada de água, é preciso que seja feita a remoção do carpete para limpeza e secagem. Retirada, para tratamento ou substituição, da espumay/feltro existente logo abaixo. Aspiração do líquido, limpeza e secagem do assoalho (lataria) e posterior montagem de tudo. O carpete é recuperado e não há necessidade de troca, mas o feltro, uma vez contaminado, tem que ser substituído e a espuma tratada. O prazo da execução do serviço depende muito da quantidade e tipo de líquido contaminante, mas a média é em torno de oito horas (desmontagem/tratamento/ montagem e o preço também é proporcional ao tamanho da contaminação, se é feltro ou espuma.
4 – Caso o volume de água/lama atinja os bancos, também é possível seu tratamento e sua recuperação na maior parte dos vezes. A permanência do mou cheiro é proporcional à rapidez com que a higienização é iniciada e os tipos de produtos usados. Forrações e painéis com componentes elétricos/eletrônicos são higienizados externamente. Carros que ficaram totalmente submersos dependem, inicialmente, de análise de técnicos mecânicos/eletricistas/eletrônicos para avaliar os perdas gerais (PT ou não) do veículo. Os valores dos serviços podem variar entre R$ 200 e R$1 mil em carros compactos e em função do tamanho da contaminação e serviços a serem executados. guns módulos que comandam o alarme, limpador de para-brisa e central multimídia. Os interruptores dos vidros e travas elétricas das portas também podem se danificar com a água. A mão de obra da verificação dos sistemas elétricos do carro tem custo de R$ 1.200, sem contar os possíveis valores de troca de componentes.
ATÉ O TETO
Levando a situação para um nível extremo, com o carro totalmente mergulhado na água da chuva, misturada a lama eesgoto, acrescentam-seaos prejuízos já enumerados os outros relativos ao acabamento interno do veículo. Seo proprietário tem seguro do carro, normalmente a seguradora decreta perda total nesses casos de inundação, pagando a indenização devida. Mas se o cidadão não fez o seguro do automóvel, pode recorrer a empresas especializadas nesse tipo de reparação, que irão pratica mente desmontar o carro, fazer a limpeza e trocar o que for preciso. Nesse caso, o proprietário só tem uma certeza: serviço custará caro!
CAPOTARIA
Quando se fala em interior de carro inundado por água de chuva, a primeira cois. que se pensa é que será necessário trocar tudo. Mas o proprietário da Capotaria JR, Afonso Júnior, com experiência de 25 anos no setor, afirma que pode não ser bem assim. Ele afirma que muitos componentes do acab: mento interno podem ser recuperados com uma simples limpeza e higienização. Júnior lembra que a maioria dos carros nacionais tem o assoalho coberto por carpete eum tipo de feltro, mesmo material que geralmente reveste o interior do porta-malas. Se forem atingidos por água e lama, o carpete pode ser retirado e lavado, com o custo de R$ 300. Já o feltro õ tem de ser trocado: R$ 250. Mas se a situação do carpete estiver muito ruim, a troca completa em um carro pequeno custa em torno de R$ 800, e em um modelo grande, R$ 1 mi No caso dos bancos atingidos pela água suja da chuva, Júnior afirma que o mais comum éalavagem do tecido e da espuma. Ele garante que o resultado é bom e que não fica cheiro desagradável. Para lavar ele cobra R$ 500, mas se o cliente optar pela troca do tecido e da espuma dos bancos, o custo do serviço sobe para R$ 3 mil. Júnior lembra que existe ainda a opção de comprar um jogo de bancos no ferro-velho, com preço médio de R$ 1 mil. Com relação aos forros das portas, Júnior recorda que os carros fabricados até 2000 usavam painéis de eucatex, que empenam quando em contato com a água, exigindo a substituição. Para trocá-los juntamente com o revestimento em tecido, o custo é de R$ 500. Já os painéis de porta mais “modernos”, que são de plástico, na maioria das vezes somente a limpeza já resolve o problema, com custo de R$ 200. Júnior chama a atenção ainda para a limpeza dos cintos de segurança, que também costumam ser atingidos pelas águas sujas da inundação. “Nesse caso, oscintos são desmontados, lavados e a máquina lubrificada, para depois ser feita a remontagem”, afirma o capoteiro. O serviço de limpeza é de R$ 100 por cinto de segurança, mas se for necessária a troca da fita, R$ 150 por unidade. E tem ainda o revestimento do teto, que nos casos extremos de inundação também é atingido. Na maioria das vezes, de acordo com Júnior, é possível lavar, secar e trocar o tecido, com preços variando de R$ 500 a R$ 1.500, dependendo do modelo. Para o bagagito, que encobre o porta-malas, a troca do carpete fica em R$ 150.
Fonte: Estado de Minas