Embora economistas já identifiquem sinais de melhoras em algumas economias desenvolvidas – como EUA e Alemanha–, 2014 não está livre de riscos econômicos importantes.
As projeções mais recentes do FMI (Fundo Monetário Internacional) preveem que a economia global cresça ao redor de 3,6%, ou 0,7 ponto percentual a menos do que 2013.
Esse aumento ainda não deve servir para recuperar o terreno perdido na crise de 2008 e depende de quatro fatores-chave, que a BBC explica aqui:
1) Zona do euro
A zona do euro começa 2014 com a entrada de um novo membro, a Letônia, e pouco a celebrar.
Segundo o FMI, a economia do bloco se contraiu 0,4% no ano passado e crescerá mero 1% em 2014.
A crise não afeta apenas Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, mas também economias mais desenvolvidas, como França e Holanda, que se saíram mal em 2013.
Nem o motor da zona do euro, a Alemanha, ficou totalmente imune: apesar de ter reduzido o desemprego, o país teve crescimento anêmico no ano passado.
Os problemas são vários: além de paralisia econômica, há o temor de uma deflação (queda de preços, que pode levar a desinventimentos e falência de negócios) e os persistentes índices de desemprego em alguns países (a média regional é 10%; chega a 25% em países como Espanha e Grécia).
Nesse panorama, um dos grandes temores em 2014 é de que as eleições do Parlamento Europeu se convertam em uma espécie de referendo sobre o euro.
John Bowler, diretor de análise de países da Economist Intelligence Unit, braço de dados e estatísticas da revista britânica The Economist, não descarta a desintegração da zona do euro.
“O grande mérito de 2013 foi que o euro sobreviveu”, disse ele à BBC Mundo.
“O perigo é que os políticos acreditem que possam seguir fazendo o mesmo até que a tormenta passe. A realidade é que o mal-estar social pode explodir a qualquer momento. Em maio (mês de eleições no Parlamento Europeu), a legitimidade de muitos governos pode ficar seriamente questionada. Se a isso se somar a pressão econômica em países altamente endividados, é possível que um ou mais de um país saia do euro, algo muito desestabilizador para a economia mundial.”
2) EUA e os estímulos monetários
O panorama é mais promissor nos EUA, graças ao crescimento do terceiro trimestre do ano passado e à redução no desemprego.
Algumas estimativas preveem crescimento de 3% para a economia do país.
O otimismo levou o presidente do Fed (banco central americano), Ben Bernanke, a anunciar a redução dos estímulos monetários em vigor e a manter a taxa de juros no nível de 0%.
O enigma é o que fará a sua sucessora no cargo, Janet Yellen, que assume em janeiro. Mas analistas esperam continuidade nessa política.
A flexibilização monetária completou cinco anos e, em 2013, representou a compra de títulos no valor de US$ 80 bilhões, com o objetivo de injetar dinheiro na economia e aumentar o crédito a consumidores e produtores.
Não está claro até que ponto a medida cumpriu seu objetivo ou se incentivou a especulação financeira global e possíveis bolhas financeiras.
E antes mesmo de oficializar-se a redução dos estímulos, o relaxamento da medida provocou em 2013 turbulência nas moedas de muitos países emergentes (no Brasil, fez o dólar disparar).
3 – China: O difícil equilíbrio
Em 2013, ficou claro que a economia chinesa não voltará a crescer como fez nas décadas prévias (a um ritmo anual de 9% a 10%).
Essa mudança de ritmo se deve, em grande medida, ao início da transição de um modelo exportador para outro mais baseado em consumo interno.
Ainda assim, calcula-se que a China tenha crescido 7,5% em 2013, porcentagem invejável. O problema chinês é outro.
Desde a crise global de 2008, a China vivencia uma grande expansão do crédito. Para Gabriel Palma, da Universidade de Cambridge, essa expansão é insustentável.
“O estoque de crédito na China saltou de US$ 9 bilhões em 2007-2008 para US$ 23 bilhões em 2012: cerca de 22% do PIB” disse ele. “Em outras palavras, a China conseguiu replicar todo o estoque de crédito do sistema financeiro americano em apenas cinco anos”, disse Palma à BBC Mundo.
Além disso, existe um sistema bancário paralelo, pouco regulamentado, também em crescimento no país, que copia muitas das práticas que levaram à crise imobiliária americana (subprime).
“Na capital, Pequim, de 20 milhões de habitantes, existem hoje quase 4 milhões de casas e apartamentos que não conseguem comprador. E a atividade de construção segue em frente como se nada estivesse acontecendo”, diz Palma.
Em julho, o governo anunciou uma auditoria da dívida de governos locais e municipais. Segundo a imprensa chinesa, em dezembro essa dívida parece ter duplicado desde 2010.
O fato de a China ter a maior quantidade de reservas em moeda estrangeira do mundo pode ser crucial para evitar que uma eventual crise acabe contaminando o mundo inteiro.
4 – Matérias-primas
A plena incorporação da China – e, em menor grau, da Índia – no mercado mundial, no início do século, levou a uma explosão dos preços das matérias-primas, que representam 75% das exportações da América Latina, segundo o Banco Mundial.
O problema é que a demanda por elas está caindo, ante o menor ritmo de crescimento chinês e indiano.
O preço do cobre caiu 10% no ano passado; o da prata, mais de 20%; o da soja se manteve estável e o do petróleo flutua em ritmo de queda.
Essa tendência também se observa nos mercados futuros.
Segundo a Bloomberg, os contratos futuros de soja até 2016 são cotados a 16% a menos do que o preço atual, algo que pode ter forte impacto nos produtores do Cone Sul.
Apenas matérias-primas ligadas à alimentação ficaram mais caras: o café subiu 26,7% e o açúcar, 14%.
A Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) calcula que o continente compensará a queda dos preços de muitas commodities com um melhor desempenho do consumo e com o cenário internacional mais favorável: em 2014, a expectativa é de que a América Latina cresça 3,2% em 2014, ante 2,6% em 2013.
Tudo dependerá da evolução das três regiões mencionadas acima: zona do euro, EUA e China.
Fonte: BBC Brasil